domingo, 24 de maio de 2020

Telescópio do ESO observa sinais de nascimento de planeta

Observações efetuadas com o VLT (Very Large Telescope) do ESO revelaram sinais da formação de um sistema planetário.


© ESO (disco em torno da estrela jovem AB Aurigae)

Em torno da estrela jovem AB Aurigae encontra-se um disco denso de gás e poeira, onde os astrônomos descobriram uma estrutura em espiral proeminente com um "nodo" que marca o lugar onde pode estar se formando um planeta. A estrutura observada poderá ser a primeira evidência direta de um protoplaneta em formação.

"Milhares de exoplanetas foram já identificados, mas pouco sabemos sobre a sua formação,” diz Anthony Boccaletti do Observatoire de Paris, PSL University, França, que liderou este estudo. Os astrônomos sabem que os planetas nascem da aglomeração de poeira e gás frio em discos de poeira situados em torno de estrelas jovens como AB Aurigae.

Até agora os astrônomos não eram capazes de obter imagens suficientemente nítidas e profundas destes discos jovens para se poder observar a estrutura nodosa que marca o lugar onde um protoplaneta pode estar e formando.

As novas imagens apresentam uma espiral notável de gás e poeira em torno de AB Aurigae, um sistema situado a cerca de 520 anos-luz de distância da Terra na direção da constelação de Cocheiro. Espirais deste tipo assinalam a presença de protoplanetas, que movem o gás criando assim "perturbações no disco sob a forma de ondas, um pouco como a esteira de um barco num lago," explica Emmanuel Di Folco do Laboratório de Astrofísica de Bordeaux (LAB), França, que também participou neste estudo. À medida que o planeta se desloca em torno da estrela central, esta onda toma a forma de um braço em espiral. A região amarela muito brilhante próximo do centro da nova imagem de AB Aurigae, situada aproximadamente à mesma distância da sua estrela que Netuno do Sol, é um destes locais de perturbação onde ocorre a formação de um planeta.

Observações do sistema AB Aurigae efetuadas há alguns anos atrás com o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), do qual o ESO é um parceiro, forneceram as primeiras indicações da ocorrência de formação planetária em torno da estrela. Nas imagens ALMA os cientistas descobriram dois braços espirais de gás próximos da estrela, situados na região interior do disco. Posteriormente, em 2019 e no início de 2020, Boccaletti e uma equipe de astrônomos prepararam-se para captar uma imagem mais nítida com o auxílio do instrumento SPHERE montado no VLT do ESO no Chile. As imagens SPHERE são as mais profundas obtidas até à data do sistema AB Aurigae.

Com o poderoso sistema de imagem do SPHERE, foi possível observar a radiação tênue emitida por grãos de poeira pequenos e emissões vindas do disco interior. A equipe confirmou a presença dos braços espirais anteriormente detectados pelo ALMA e descobriu também outra estrutura notável que aponta para a presença de formação de planetas ocorrendo no disco. Este tipo de estrutura está previsto em alguns modelos teóricos de formação planetária. Corresponde à ligação de duas espirais, uma que se enrola para o interior da órbita do planeta e a outra que se expande para o exterior, que se juntam no local do planeta, permitindo que gás e poeira do disco se acrete ao planeta em formação e o faça crescer.

O ESO está construindo o ELT (Extremely Large Telescope) de 39 metros de diâmetro, que tirará partido do trabalho de vanguarda do ALMA e do SPHERE para estudar mundos extrassolares. Este poderoso telescópio permitirá aos astrônomos obter imagens ainda mais detalhadas de planetas em formação. "Deveremos ser capazes de ver diretamente e mais precisamente como é que a dinâmica do gás contribui para a formação dos planetas," conclui Boccaletti.

Esta pesquisa foi apresentada no artigo intitulado “Are we witnessing ongoing planet formation in AB Aurigae? A showcase of the SPHERE/ALMA synergy” foi publicada na revista Astronomy & Astrophysics.

Fonte: ESO

Nenhum comentário:

Postar um comentário