sábado, 9 de agosto de 2025

Luz ultravioleta revela as consequências de uma rara colisão de estrelas

Astrônomos obtiveram evidências convincentes de que uma anã branca próxima é o remanescente da fusão de duas estrelas, uma descoberta estelar rara revelada através de observações ultravioletas, pelo telescópio espacial Hubble, do carbono na atmosfera quente da estrela.

© Snehalata Sahu (fusão entre uma anã branca com uma estrela subgigante)

As anãs brancas são os núcleos densos deixados para trás quando as estrelas esgotam o seu combustível e entram em colapso. São brasas estelares do tamanho da Terra, com tipicamente metade da massa do Sol, constituídas por núcleos de carbono-oxigênio com camadas superficiais de hélio e hidrogênio. Embora as anãs brancas sejam comuns no Universo, as que têm uma massa excepcionalmente elevada (mais do que o Sol) são raras e enigmáticas.

Astrônomos da Universidade de Warwick relatam as suas investigações sobre uma anã branca de elevada massa conhecida, situada a 130 anos-luz de distância, denominada WD 0525+526. Com uma massa 20% superior à do nosso Sol, WD 0525+526 é considerada "ultramassiva" e a forma como esta estrela se formou não é totalmente compreendida.

Uma anã branca deste tipo poderia formar-se a partir do colapso de uma estrela massiva. No entanto, dados ultravioleta do telescópio espacial Hubble revelaram que WD 0525+526 tem pequenas quantidades de carbono subindo do seu núcleo para a sua atmosfera rica em hidrogênio, sugerindo que esta anã branca não teve origem numa única estrela massiva.

À luz óptica, WD 0525+526 parece uma anã branca pesada, mas normal. No entanto, através de observações no ultravioleta obtidas com o Hubble, foi possível detectar fracas assinaturas de carbono que não eram visíveis aos telescópios ópticos. Encontrar pequenas quantidades de carbono na atmosfera é um sinal revelador de que esta anã branca massiva é provavelmente o remanescente de uma fusão entre duas estrelas que colidiram. Também nos diz que podem haver muitos mais remanescentes de fusões como esta, mascarados de anãs brancas comuns com atmosfera de hidrogênio puro. Só as observações no ultravioleta seriam capazes de as revelar. 

Normalmente, o hidrogênio e o hélio formam uma barreira espessa ao redor do núcleo de uma anã branca, mantendo elementos como o carbono escondidos. Numa fusão de duas estrelas, as camadas de hidrogênio e hélio podem queimar-se quase completamente à medida que as estrelas se combinam. A estrela singular resultante tem um invólucro muito fino que já não impede o carbono de chegar à superfície - é exatamente isto que se encontra em WD 0525+526.

Foi medido que as camadas de hidrogênio e hélio são dez bilhões de vezes mais finas do que nas anãs brancas típicas. Pensa-se que estas camadas foram removidas durante a fusão, e é isto que permite agora que o carbono apareça à superfície. Mas este remanescente também é incomum: tem cerca de 100.000 vezes menos carbono à superfície do que outros remanescentes da fusão. O baixo nível de carbono, juntamente com a elevada temperatura da estrela (quase quatro vezes mais quente do que o Sol), informa que WD 0525+526 está muito mais adiantada na sua evolução pós-fusão do que as anteriormente encontradas. Esta descoberta ajuda a compreender melhor o destino dos sistemas estelares binários, o que é fundamental para fenômenos relacionados, como as explosões de supernova.

Acrescentando o mistério está a forma como o carbono atinge a superfície nesta estrela muito mais quente. As outras estrelas remanescentes de fusões estão numa fase mais avançada da sua evolução e são suficientemente frias para que a convecção traga o carbono para a superfície. Mas WD 0525+526 é demasiado quente para esse processo. Foi identificada uma forma mais sutil de mistura chamada semiconvecção, vista aqui pela primeira vez numa anã branca. Este processo permite que pequenas quantidades de carbono subam lentamente para a atmosfera rica em hidrogênio da estrela.

À medida que WD 0525+526 continua evoluindo e arrefecendo, espera-se que, com o tempo, surja mais carbono à sua superfície. Para já, o seu brilho ultravioleta oferece um raro vislumbre da fase inicial do rescaldo de uma fusão estelar, e uma nova referência sobre a forma como as estrelas binárias terminam as suas vidas.

Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: University of Warwick