sexta-feira, 29 de junho de 2018

O nômade interestelar ‘Oumuamua é um cometa?

‘Oumuamua, o primeiro objeto interestelar descoberto no Sistema Solar, está se afastando do Sol mais depressa do que o esperado.

ilustração do objeto interestelar ‘Oumuamua

© ESO/M. Kornmesser (ilustração do objeto interestelar ‘Oumuamua)

Este comportamento anômalo foi detectado por uma colaboração internacional astronômica que inclui o Very Large Telescope (VLT) do ESO, no Chile. Os novos resultados sugerem que ‘Oumuamua é muito provavelmente um cometa interestelar e não um asteroide.

‘Oumuamua tem sido sujeito a um intenso escrutínio desde a sua descoberta em Outubro de 2017. O ganho medido em velocidade é pequeno e ‘Oumuamua ainda está desacelerando devido à atração do Sol, mas não tão rapidamente como o previsto pela mecânica celeste.

A equipe liderada por Marco Micheli, da Agência Espacial Europeia (ESA), explorou diversos cenários para explicar a velocidade mais elevada que este visitante interestelar peculiar apresenta. Pensa-se que o mais provável é que ‘Oumuamua esteja perdendo material da sua superfície devido ao aquecimento solar, algo conhecido por desgaseificação, e que seja este empurrão dado pelo material ejetado que dá origem ao impulso, pequeno mas constante, que faz com que o ‘Oumuamua esteja se afastando do Sistema Solar mais depressa do que o esperado; no dia 1 de Junho de 2018 o objeto deslocava-se a uma velocidade de aproximadamente 114.000 quilômetros por hora.

Tal desgaseificação é um comportamento típico dos cometas, contradizendo por isso a classificação anterior do ‘Oumuamua de asteroide interestelar. “Pensamos que este objeto se trata afinal de um estranho cometa minúsculo,” comenta Marco Micheli. “Através dos dados vemos que o seu empurrão extra está ficando mais fraco à medida que o objeto se afasta do Sol, o que é típico dos cometas.”

Normalmente, quando os cometas são aquecidos pelo Sol, ejetam poeira e gases que formam uma nuvem de material, a chamada coma, em sua volta, além de uma cauda bastante caraterística. No entanto, a equipe de pesquisadores não conseguiu detectar nenhuma evidência visual de desgaseificação.

“Não observamos nem poeira, nem coma e nem cauda, o que é incomum. Pensamos que ‘Oumuamua possa estar liberando grãos de poeira anormalmente irregulares e grandes,” explica Karen Meech, da Universidade do Hawai, EUA. Meech liderou a equipe que fez a descoberta inicial, na caraterização de ‘Oumuamua em 2017.

A equipe especulou que talvez os pequenos grãos de poeira que se encontram geralmente na superfície da maioria dos cometas tenham sido erodidos durante a viagem de ‘Oumuamua pelo espaço interestelar, restando apenas os grãos maiores. Apesar de uma nuvem composta por estas partículas maiores não ser suficientemente brilhante para poder ser detectada, a sua presença poderia explicar a variação inesperada na velocidade de ‘Oumuamua.

Além do mistério da desgaseificação hipotética de ‘Oumuamua, temos ainda o mistério da sua origem interestelar. O intuito destas novas observações era determinar com exatidão o seu trajeto, o que teria provavelmente permitido obter o percurso do objeto até ao seu sistema estelar progenitor. Os novos resultados significam, no entanto, que será muito mais difícil obter esta informação.

“A verdadeira natureza deste nômade interestelar enigmático poderá permanecer um mistério,” concluiu o membro da equipe Olivier Hainaut, astrônomo no ESO. “O recentemente descoberto aumento de velocidade de ‘Oumuamua torna mais difícil descobrir qual o caminho que o objeto tomou desde da sua estrela progenitora até nós.”

A equipe testou várias hipóteses para explicar a inesperada alteração da velocidade de ‘Oumuamua. Foi analisado se a pressão de radiação solar, o efeito Yarkovsky, ou se efeitos de atrito poderiam explicar as observações. Foi também verificado se o ganho em velocidade poderia ser causado por um evento de impulso, como por exemplo uma colisão, ou ainda se viria de ‘Oumuamua ser um objeto binário ou até um objeto magnetizado. A teoria improvável de ‘Oumuamua ser uma nave espacial interestelar foi também rejeitada: o fato da variação em velocidade ser suave e contínua, não típica de propulsores, e do objeto estar girando em torno de três eixos é contrário à hipótese de se tratar de um objeto artificial.

A descoberta foi publicada na revista Nature.

Fonte: ESO

sábado, 23 de junho de 2018

Captada as melhores evidências de um tipo de buraco negro raro

Os cientistas foram capazes de provar a existência de buracos negros pequenos e de buracos negros supermassivos, mas a existência de um tipo elusivo, conhecido como buraco negro de massa intermédia, é muito debatida.

galáxia 6dFGS gJ215022.2-055059

© Hubble/Chandra (galáxia 6dFGS gJ215022.2-055059)

A imagem acima mostra a galáxia 6dFGS gJ215022.2-055059 (a grande mancha amarelo-esbranquiçada no centro da imagem) obtida pelo telescópio espacial Hubble, e de várias galáxias vizinhas, combinada com observações de raios X de um buraco negro nos arredores da galáxia (a pequena mancha roxa-esbranquiçada para baixo e para a esquerda) obtidas pelo observatório de raios X Chandra da NASA.

Uma nova pesquisa da Universidade de New Hampshire mostra a evidência mais forte, até à data, de que este buraco negro intermediário existe, captando um em ação por acaso, no ato de devorar uma estrela.

No estudo os pesquisadores usaram imagens de satélite para detectar pela primeira vez este sinal significativo de atividade. Encontraram uma enorme explosão de radiação, em vários comprimentos de onda, nos arredores de uma galáxia distante. O brilho do clarão diminuiu ao longo do tempo, exatamente como esperado para a perturbação/dilaceração de uma estrela por um buraco negro. Este dado fornece uma das poucas maneiras robustas de pesar ou determinar o tamanho do buraco negro.

Os pesquisadores usaram dados de um trio de telescópios de raios X em órbita, o observatório de raios X Chandra e o satélite Swift, ambos da NASA, e o XMM-Newton da ESA, para encontrar as erupções de radiação em vários comprimentos de onda que ajudaram a identificar os de outra forma incomuns buracos negros de massa intermediária.

A característica de uma erupção longa fornece evidências da destruição de uma estrela a que se dá o nome de evento de ruptura de maré. As forças de maré, devido à intensa gravidade do buraco negro, podem destruir uma estrela que passe demasiado perto. Durante um evento de ruptura de maré, alguns dos detritos estelares são lançados para fora a altas velocidades, enquanto o restante cai em direção ao buraco negro. À medida que viaja para dentro, e é ingerido pelo buraco negro, o material aquece até milhões de graus e forma um distinto clarão em raios X. Segundo os cientistas, estes tipos de erupções podem facilmente alcançar a luminosidade máxima e são uma das formas mais eficazes de detectar buracos negros de massa intermediária.

Devido à baixíssima taxa de ocorrência deste tipo de explosões estelares por um buraco negro de massa intermediária, os cientistas pensam que a sua descoberta significa que podem existir muitos buracos negros de massa intermediária num estado latente nas periferias das galáxias espalhadas pelo Universo local.

O estudo foi publicado na revista científica Nature Astronomy.

Fonte: University of New Hampshire

Encontrado material intergaláctico em falta

Depois de um jogo cósmico de esconde-esconde com quase vinte anos, astrônomos usando o observatório espacial XMM-Newton da ESA finalmente encontraram evidências de gás quente e difuso que permeia o cosmos, fechando uma lacuna intrigante no orçamento geral da matéria ordinária do Universo.

simulação de uma teia cósmica interligando aglomerados de galáxias

© Illustris Collaboration (simulação de uma teia cósmica interligando aglomerados de galáxias)

Embora a misteriosa matéria escura e a energia escura componham cerca de 25% e 70% do nosso cosmos, respetivamente, a matéria comum que constitui tudo o que vemos corresponde a apenas 5%, que são muito difíceis de rastrear.

A quantidade total de matéria comum, denominadas bárions, pode ser estimada a partir de observações da radiação cósmica de fundo em micro-ondas, que é a luz mais antiga do Universo e que remonta a apenas 380 mil anos após o Big Bang.

As observações de galáxias muito distantes permitem que o acompanhamento da evolução desta matéria ao longo dos primeiros dois bilhões de anos do Universo. No entanto, depois disso, mais da metade parece desaparecer.

Os bárions desaparecidos representam um dos maiores mistérios da astrofísica moderna. Esta matéria existiu no início do Universo, mas não é observada mais no presente. Para onde foi?

A contagem da população de estrelas em galáxias espalhadas pelo Universo, mais o gás interestelar que permeia as galáxias, a matéria-prima para a formação de estrelas, só totaliza uns meros 10% de toda a matéria comum. Somando o gás quente e difuso nos halos que englobam as galáxias e o gás ainda mais quente que preenche os aglomerados de galáxias, as maiores estruturas cósmicas unidas pela gravidade, eleva o inventário para menos de 20%.

Isto não é surpreendente: as estrelas, as galáxias e os aglomerados de galáxias formam-se nos nós mais densos da teia cósmica, a distribuição filamentar da matéria escura e comum que se estende por todo o Universo. Embora estes locais sejam densos, também são raros, portanto não são os melhores locais para procurar a maioria da matéria cósmica.

Os astrônomos suspeitavam que os bárions desaparecidos deviam estar à espreita nos filamentos omnipresentes desta teia cósmica, onde a matéria é menos densa e, portanto, mais difícil de observar. Usando técnicas diferentes ao longo dos anos, conseguiram localizar uma boa parte deste material intergaláctico, principalmente nos seus componentes frios e quentes, elevando o orçamento total até uns respeitáveis 60%, mas deixando o mistério ainda sem solução.

Os bárions em falta são procurados há quase duas décadas, desde que os observatórios de raios X, como o XMM-Newton da ESA e o Chandra da NASA ficaram disponíveis à comunidade científica.

Observando nesta zona do espectro eletromagnético, é possível detectar o gás intergaláctico quente, com temperaturas de cerca de um milhão de graus ou mais, que bloqueia os raios X emitidos por fontes ainda mais distantes.

Para este projeto, os astrônomos usaram o XMM-Newton para observar um quasar, uma galáxia massiva com um buraco negro supermassivo no seu centro que está devorando ativamente matéria e brilhando intensamente em raios X e no rádio. Observaram este quasar, cuja luz leva mais de quatro bilhões de anos até chegar até nós, durante um total de 18 dias, divididos entre 2015 e 2017, na mais longa observação de raios X já realizada para uma fonte deste tipo.

Depois vasculharem os dados, os astrônomos conseguiram encontrar a assinatura do oxigênio no gás intergaláctico quente entre nós e o quasar distante, em dois locais diferentes ao longo da linha de visão.

Este resultado extraordinário é o começo de uma nova missão. São necessárias observações de diferentes fontes, espalhadas pelo céu, para confirmar se estas descobertas são realmente universais e para investigar mais profundamente o estado físico desta matéria há muito procurada.

Os pesquisadores  planejam estudar mais quasares com o XMM-Newton e com o Chandra nos próximos anos. No entanto, para explorar completamente a distribuição e as propriedades deste chamado meio intergaláctico morno-quente, serão necessários instrumentos mais sensíveis, como o Athena (Advanced Telescope for High-Energy Astrophysics) da ESA, com lançamento previsto para 2028.

Uma solução para o mistério do desaparecimento dos bárions foi publicada na revista Nature.

Fonte: University of Colorado

sexta-feira, 22 de junho de 2018

A teoria da relatividade geral de Einstein é testada fora da Via Láctea

Com o auxílio do instrumento MUSE montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, uma equipe liderada por Thomas Collett, da Universidade de Portsmouth no Reino Unido, calculou a massa da galáxia ESO 325-G004 ao medir o movimento das estrelas nesta galáxia elíptica próxima.

Galaxy cluster Abell S0740

© Hubble (aglomerado de galáxias Abell S0740)

Esta imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble mostra uma coleção diversa de galáxias no aglomerado Abell S0740, situado a mais de 450 milhões de anos de distância na direção da constelação do Centauro. A galáxia elíptica gigante ESO 325-G004 encontra-se no centro deste aglomerado.

“Usamos dados obtidos pelo VLT para medir quão rapidamente as estrelas estavam se movendo na ESO 325-G004, o que nos permitiu inferir a quantidade de massa que deve existir na galáxia para manter estas estrelas em órbita,” explica Collett.

Por outro lado, a equipe conseguiu também medir outro aspecto da gravidade. Com o telescópio espacial Hubble, observou-se um anel de Einstein, um fenômeno que resulta da luz de uma galáxia distante estar sendo distorcida por ESO 325-G004. A observação deste anel permitiu aos astrônomos medir que quantidade de luz, e consequentemente espaço-tempo, está sendo distorcida pela enorme massa de ESO 325-G004.

A teoria da relatividade geral de Einstein prevê que os objetos deformem o espaço-tempo à sua volta, fazendo com que a luz que passa por ele seja desviada e dando origem a um fenômeno conhecido por lente gravitacional. Este efeito apenas se torna evidente para objetos muito massivos. São conhecidas algumas centenas de lentes gravitacionais fortes, mas muitas estão demasiado distantes para se medir com precisão as suas massas. No entanto, a galáxia ESO 325-G004 constitui uma das lentes mais próximas de nós, situada a apenas 450 milhões de anos-luz de distância da Terra.

Image of ESO 325-G004

© Hubble/VLT (galáxia ESO 325-G004)

“Com dados obtidos pelo MUSE determinamos a massa da galáxia situada em primeiro plano e com o Hubble medimos a quantidade de efeito de lente gravitacional observado. Em seguida comparamos estas duas maneiras de medir a força da gravidade, e o resultado foi exatamente o previsto pela relatividade geral, com uma incerteza de apenas 9%. Trata-se do teste da relatividade geral fora da Via Láctea mais preciso realizado até hoje. E usamos apenas uma galáxia!” disse Collett.

Em 1998 descobriu-se que o Universo está expandindo mais depressa atualmente do que o que acontecia no passado. Sabe-se desde 1928 que o Universo se encontra em expansão, mas em 1998 duas equipes de astrônomos mostraram que o Universo está expandindo mais depressa agora do que o que acontecia no passado. Esta descoberta surpreendente valeu o Prêmio Nobel da Física em 2011 e desde então tem tido enormes implicações na nossa compreensão do Universo.

Esta descoberta surpreendente pode ser explicada somente se o Universo for essencialmente composto um por componente exótico chamado energia escura. No entanto, esta interpretação apoia-se no fato da relatividade geral ser a teoria da gravidade correta a escalas cosmológicas. A relatividade geral foi testada com muita precisão nas escalas do Sistema Solar e alguns trabalhos observaram estrelas no centro da Via Láctea, mas até agora não tinha havido testes precisos para escalas astronômicas maiores. Testar o longo alcance das propriedades da gravidade é vital para validar o atual modelo cosmológico.

Esta descoberta pode ter implicações importantes para os modelos de gravidade alternativos à relatividade geral, que também foram evocados para explicar a expansão acelerada do Universo. Estas teorias alternativas prevêem que os efeitos da gravidade na curvatura do espaço-tempo são “dependentes da escala”, o que significa que a gravidade se comportaria de modo diferente a escalas astronômicas diferentes. Collett e a sua equipe descobriram que este não é muito provavelmente o caso, a menos que estas diferenças ocorram apenas a escalas maiores que 6.000 anos-luz.

“O Universo é um lugar espantoso, dando-nos acesso a estas lentes gravitacionais que podemos usar como laboratórios,” acrescenta o membro da equipe Bob Nichol da Universidade de Portsmouth. “É extremamente satisfatório usar os melhores telescópios do mundo para desafiar Einstein e descobrir que afinal ele tinha razão.”

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “A precise extragalactic test of General Relativity” de Collett et al., que será publicado na revista Science.

Fonte: ESO

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Pilares da Nebulosa da Águia em infravermelho

Estrelas recém-nascidas estão se formando na Nebulosa da Águia.

Nebulosa da Águia e Pilares da Criação

© Hubble/Lluís Romero (Nebulosa da Águia e Pilares da Criação)

Gravitacionalmente contraindo-se em pilares de gás e poeira densos, a intensa radiação destas estrelas brilhantes recém-formadas está fazendo com que o material circundante evapore. Esta imagem, tirada com o telescópio espacial Hubble em luz infravermelha próxima, permite ao espectador ver através de grande parte da poeira espessa que faz os pilares opacos na luz visível.

As estruturas gigantes têm anos-luz de comprimento e são apelidadas informalmente de Pilares da Criação. Associada ao aglomerado estelar aberto M16, a Nebulosa da Águia, fica a cerca de 6.500 anos-luz de distância da Terra.

A Nebulosa da Águia é um alvo fácil para pequenos telescópios em uma parte rica em nebulosas do céu em direção à constelação Serpens Cauda.

Fonte: NASA

Aspectos intrigantes dos núcleos galácticos ativos

Pesquisadores da UCSC (Universidade da Califórnia em Santa Cruz) pensam que nuvens de poeira, em vez de buracos negros gêmeos, podem explicar as características encontradas em NGAs (Núcleos Galácticos Ativos).

ilustração do aspeto de um núcleo galáctico ativo

© Peter Z. Harrington (ilustração do aspeto de um núcleo galáctico ativo)

Muitas galáxias grandes têm um NGA, uma pequena região central brilhante alimentada por matéria que espirala na direção de um buraco negro supermassivo. Quando estes buracos negros engolem vigorosamente a matéria, são cercados por gás quente e veloz que é denominada "região de linha ampla" (porque as linhas espectrais desta região são ampliadas pelo movimento rápido do gás).

A emissão deste gás é uma das melhores fontes de informação sobre a massa do buraco negro central e sobre o seu crescimento. A natureza deste gás é, no entanto, mal compreendida; em particular, há menos emissão do que o esperado para o gás que se move a certas velocidades. A quebra de modelos simples levou alguns astrofísicos a pensar que muitos NGAs podem ter não apenas um, mas dois buracos negros.

A nova análise é liderada por Martin Gaskell, pesquisador associado em astronomia e astrofísica da University of California Santa Cruz (UCSC). Em vez de invocar dois buracos negros, explica grande parte da aparente complexidade e variabilidade das emissões da região de linha ampla como o resultado de pequenas nuvens de poeira que podem obscurecer parcialmente as regiões mais internas dos NGAs.

O gás que espirala em direção ao buraco negro central de uma galáxia forma um disco de acreção achatado e o gás superaquecido neste disco emite radiação térmica intensa. Alguma desta luz é absorvida e reemitida por hidrogênio e outros gases que circulam acima do disco de acreção na região de linha ampla. Para cima e além, encontra-se uma região de poeira. Assim que a poeira atravessa um certo limite, é submetida à forte radiação do disco de acreção.

Os autores pensam que esta radiação é tão intensa que afasta a poeira do disco, resultando num fluxo irregular de nuvens de poeira que começam na orla externa da região de linha ampla.

As nuvens de poeira tornam a luz emitida mais tênue e avermelhada, assim como a atmosfera da Terra faz com que o Sol pareça mais fraco e avermelhado ao pôr-do-Sol. Os pesquisadores desenvolveram um software para modelar os efeitos destas nuvens de poeira nas observações da região de linha ampla.

Eles também mostram que, ao incluírem nuvens de poeira no seu modelo, este pode replicar muitas características da emissão da região de linha ampla que há muito tempo intrigam os astrofísicos. Em vez de o gás ter uma distribuição assimétrica e variável, difícil de explicar, encontra-se simplesmente num disco uniforme, simétrico e turbulento em torno do buraco negro. As aparentes assimetrias e mudanças são devidas a nuvens de poeira que passam em frente da região de linha ampla e que fazem com que as regiões atrás pareçam mais fracas e vermelhas.

Os resultados foram publicados na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Royal Astronomical Society

sábado, 16 de junho de 2018

Buraco negro disparando jato destrói estrela

Quando as estrelas se aproximam demais de um buraco negro supermassivo, elas entram em um território perigoso.

estrela sendo despedaçada pela gravidade de buraco negro

© NRAO/Sophia Dagnello (estrela sendo despedaçada pela gravidade de buraco negro)

A proximidade máxima depende do buraco negro, mas para um que tem 10 milhões de vezes a massa do Sol, qualquer estrela se aventurando mais perto do que 1 UA (Unidade Astronômica) será dilacerada pelo buraco negro. Rasgando em pedaços, metade da estrela vai zunindo, enquanto a outra metade forma um disco de gás quente ao redor de seu destruidor. Este gás aquece e brilha, aparecendo nos nossos telescópios como um clarão de longa duração.

Os astrônomos detectaram algumas dúzias destes eventos de ruptura de marés, geralmente em comprimentos de onda ópticos, ultravioleta ou de raios X. Às vezes, talvez 10% do tempo, as rupturas de marés vêm com jatos, feixes de plasma alimentados pelos recém-formados discos de gás. A luz dos mais bem estudados eventos de marés disparou a cerca de 4 bilhões de anos para chegar até nós, longe demais para os astrônomos verem o jato.

Em 14 de junho, Seppo Mattila (da Universidade de Turku, na Finlândia) e seus colegas disseram que agora fizeram exatamente isso, vendo com sucesso um jato de estrelas trituradas nascer e crescer por mais de uma década.

A equipe notou o evento enquanto procurava por supernovas. Os pesquisadores estavam estudando o par galáctico Arp 299 (NGC 3690 e IC 694), duas gloriosas galáxias espirais colidindo a cerca de 140 milhões de anos-luz de distância. A fusão em curso está levando o gás para as regiões centrais das galáxias, construindo um disco de acreção brilhante ao redor do buraco negro na galáxia ocidental e desencadeando a criação de inúmeras estrelas, muitas das quais são enormes o suficiente para serem supernovas.

Mattila e seus colegas descobriram uma erupção infravermelha em janeiro de 2005 no núcleo da galáxia ocidental, perto do buraco negro ativo. Em julho, uma fonte de rádio compacta se juntou a ele. Enquanto a equipe observava a próxima década com vários instrumentos baseados no solo e no espaço, esta fonte de rádio cresceu e se esticou em uma sequência irregular. Inicialmente, o material no jato movia-se quase à velocidade da luz e depois diminuía rapidamente para meros 22% da velocidade da luz, enquanto corria para o gás e a poeira ao redor.

Por si só, a existência do jato não significa que o surto seja um evento de ruptura de maré. Os buracos negros ativos são notoriamente variáveis, resplandecendo inesperadamente. Mas este evento, chamado Arp 299-B AT1, tem um grande ponto a seu favor: o ângulo do jato. Um grande toróide de gás empoeirado, visto de lado, envolve o buraco negro. Qualquer jato abastecido por ele seria orientado de cima para baixo a partir de nossa perspectiva, como um polo preso através de um tubo interno.

Mas o jato Arp 299-B AT1 aponta para nós, inclinado apenas cerca de 25° a 35° da nossa linha de visão. Uma estrela pode disparar em direção ao buraco negro em qualquer ângulo, e o disco de gás criado por sua destruição pode contornar o buraco negro e lançar um jato desalinhado com o disco original que alimenta o buraco negro.

O Arp 299-B AT1 é extraordinariamente normal nos comprimentos de onda ópticos e em raios X. Parece haver um monte de gás e poeira entre o evento de ruptura de maré e nós, bloqueando e absorvendo esta radiação e, eventualmente, reemitindo-a no infravermelho. Os núcleos de muitas galáxias estão repletos de poeira, e a capacidade de detectar um destes eventos atrás de tanta poeira pode abrir caminho para encontrá-los em galáxias.

Com base no brilho intrínseco do evento e na quantidade de energia que aquece a poeira ao redor, os pesquisadores estimam que foi a morte de uma estrela entre 2 e 7 massas solares e desencadeou mil vezes mais radiação do que um colapso padrão de uma supernova.

Um artigo sobre o assunto foi publicado na revista Science.

Fonte: Sky & Telescope

Descoberto sistema com três planetas do tamanho da Terra

O Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) e a Universidade de Oviedo divulgaram a descoberta de dois novos sistemas planetários. Um deles hospeda três planetas com o mesmo tamanho que a Terra.

ilustração de um sistema planetário com três exoplanetas rochosos

© IAC/Gabriel Pérez Díaz (ilustração de um sistema planetário com três exoplanetas rochosos)

As informações sobre estes novos exoplanetas foram obtidas a partir dos dados recolhidos pela missão K2 do satélite Kepler da NASA, que teve início em novembro de 2013. O trabalho revela a existência de dois novos sistemas planetários detectados a partir dos eclipses que produzem na luz estelar das suas respetivas estrelas. A equipe de pesquisa liderada por Javier de Cos da Universidade de Oviedo e Rafael Rebolo do IAC, participam, juntamente com pesquisadores destes dois centros, outros da Universidade de Genebra e do Gran Telescopio Canarias (GTC).

O primeiro sistema exoplanetário está localizado ao redor da estrela K2-239, uma anã vermelha do tipo M3V a partir de observações feitas com o GTC, no Observatório Roque de los Muchachos (Garafía, La Palma). Está situada na direção da constelação do Sextante a 50 parsecs (cerca de 160 anos-luz) do Sol. Tem um sistema compacto de pelo menos três planetas rochosos de tamanho semelhante à Terra (1,1; 1,0 e 1,1 raios terrestres) que orbitam a estrela a cada 5,2; 7,8 e 10,1 dias, respectivamente.

A outra estrela anã vermelha chamada K2-240 tem duas super-Terras com aproximadamente o dobro do tamanho do nosso planeta. A temperatura atmosférica das anãs vermelhas, em torno das quais estes planetas orbitam, é de 3.450 e 3.800 K, respectivamente, quase metade da temperatura do Sol. Estima-se que todos os planetas descobertos têm temperaturas superficiais dezenas de graus acima da temperatura da Terra devido à forte radiação que recebem nestas órbitas próximas em torno das suas estrelas.

As futuras campanhas de observação com o James Webb Space Telescope (JWST) vão caracterizar a composição das atmosferas dos planetas descobertos. As observações espectroscópicas com o instrumento ESPRESSO, instalado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, ou com espectrógrafos futuros no GTC ou em novas instalações astronômicas com o Extremely Large Telescope (ELT) ou o Thirty Meter Telescope (TMT), serão cruciais para determinar as massas, densidades e propriedades físicas destes planetas.

O trabalho será publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Instituto de Astrofísica de Canarias

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Descoberto trio de planetas em torno de estrela recém-nascida

Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), duas equipes independentes de astrônomos descobriram provas convincentes de que três planetas jovens orbitam a estrela recém-nascida HD 163296.

ALMA Discovers Trio of Infant Planets

© ESO/ALMA (distúrbios no disco de gás situado em torno da estrela HD 163296)

Utilizando uma técnica inovadora, os astrônomos identificaram três distúrbios no disco de gás situado em torno da jovem estrela: a mais forte evidência de que planetas recentemente formados se encontram em órbita desta estrela. Estes são considerados os primeiros planetas descobertos pelo ALMA.

O ALMA mudou completamente a nossa maneira de ver os discos protoplanetários, as fábricas de planetas repletas de gás e poeira que rodeiam as estrelas jovens. Os anéis e espaços vazios nestes discos fornecem-nos evidências circunstanciais intrigantes da presença de protoplanetas. No entanto, existem outros fenômenos que podem também ser responsáveis por estas estruturas.

Agora, através de uma técnica inovadora de procura de planetas que identifica padrões incomuns no fluxo de gás do disco de formação planetária situado em torno de uma estrela jovem, duas equipes de astrônomos confirmaram a existência de marcas distintas que apontam para planetas recém-formados em órbita desta estrela. O movimento do gás em torno de uma estrela sem planetas apresenta um padrão muito simples e previsível (rotação de Kepler), que é praticamente impossível de alterar tanto coerentemente como localmente, por isso apenas a presença de um objeto relativamente massivo pode dar origem a tais distúrbios.

“Ao medirmos o fluxo de gás em um disco protoplanetário, temos mais certeza de que existem planetas ao redor desta estrela jovem,” disse Christophe Pinte da Universidade Monash, na Austrália. “Esta técnica oferece-nos uma nova direção para compreendermos melhor a formação de sistemas planetários.”

Para chegar a estes resultados, cada equipe analisou observações do ALMA da HD 163296, uma estrela situada a cerca de 330 anos-luz de distância da Terra na constelação do Sagitário. Esta estrela tem cerca de duas vezes a massa do Sol mas tem apenas 4 milhões de anos de idade, ou seja, é cerca de mil vezes mais jovem que o nosso Sol.

Em vez de se focarem na poeira situada no disco, a qual tinha já sido claramente observada pelo ALMA em observações anteriores, os astrônomos estudaram o gás de monóxido de carbono (CO) espalhado por todo o disco. As moléculas de CO emitem radiação bem distinta nos comprimentos de onda do milímetro, a qual pode ser observada pelo ALMA com grande detalhe. Variações sutis do comprimento de onda desta radiação, devido ao efeito Doppler, revelam movimentos do gás no disco.

Foram identificados planetas localizados aproximadamente a 12, 21 e 39 bilhões de km de distância da estrela, correspondendo a 80, 140 e 260 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

Os pesquisadores utilizaram variações da mesma técnica, a qual procura anomalias no fluxo do gás, evidenciadas pelos desvios nos comprimentos de onda da emissão de CO e que indicam que o gás está interagindo com um objeto massivo. Esta técnica é semelhante à que levou à descoberta do planeta Netuno no século XIX. Neste caso particular, as anomalias no movimento do planeta Urano foram explicadas devido ao efeito gravitacional de um corpo desconhecido, que foi subsequentemente descoberto de forma visual em 1846 e tomou o lugar de oitavo planeta do Sistema Solar.

A técnica que derivou variações médias no fluxo de gás tão pequenas como alguns porcento, revelou o impacto de vários planetas nos movimentos do gás situado mais próximo da estrela. Uma outra técnica que mede de forma mais direta o fluxo de gás, é mais adequada para estudar a parte mais externa do disco e permitiu aos pesquisadores localizar com mais precisão o terceiro planeta, no entanto restringe-se a maiores desvios no fluxo, isto é, maiores que cerca de 10%.

Em ambos os casos, os pesquisadores identificaram áreas onde o fluxo de gás não corresponde ao seu meio envolvente, um pouco como as correntes de um rio em torno de rochas na água. Ao analizar cuidadosamente este movimento, os cientistas puderam ver claramente a influência de corpos planetários com massa semelhante à de Júpiter.

Esta nova técnica permite aos astrônomos estimar de modo mais preciso massas protoplanetárias e tem menos probabilidade de produzir falsos positivos.

Ambas as equipes continuam refinando este método e irão aplicá-lo a outros discos, esperando-se assim compreender melhor como é que se formam as atmosferas e que elementos e moléculas estão presentes num planeta na época de seu nascimento.

Este trabalho foi descrito em dois artigos científicos que serão publicados na mesma edição da revista especializada Astrophysical Journal Letters.

Fonte: ESO

domingo, 10 de junho de 2018

Os aglomerados globulares podem ser 4 bilhões de anos mais jovens

Segundo uma nova pesquisa liderada pela Universidade de Warwick, os aglomerados globulares podem ser até 4 bilhões de anos mais jovens do que se pensava.

evolução de um sistema binário no interior de um aglomerado globular

© Mark A. Garlick (evolução de um sistema binário no interior de um aglomerado globular)

Compostos por centenas de milhares de estrelas densamente agrupadas numa esfera compacta, os aglomerados globulares eram considerados quase tão antigos quanto o próprio Universo; mas, graças a modelos de pesquisa recentemente desenvolvidos, foi demonstrado que podem ter 9 bilhões de anos em vez de 13 bilhões.

A descoberta põe em questão as teorias atuais sobre como as galáxias, incluindo a Via Láctea, foram formadas, pois os aglomerados globulares eram considerados quase tão antigos quanto o próprio Universo. Pensa-se que existam, só na nossa Galáxia, entre 150 e 180 aglomerados globulares.

Projetados para reconsiderar a evolução das estelas, os novos modelos BPASS (Binary Population and Spectral Synthesis) levam em conta os detalhes da evolução de estrelas binárias dentro do aglomerado globular e são usados para explorar as cores da luz das antigas populações de estrelas duplas, bem como os traços de elementos químicos vistos nos seus espectros.

O processo evolucionário vê duas estrelas interagindo num sistema binário, onde uma se expande para gigante enquanto a força gravitacional da estrela menor remove a sua atmosfera, composta por hidrogênio e hélio, entre outros elementos. Pensa-se que estas estrelas se formaram ao mesmo tempo que o próprio aglomerado.

Usando os modelos BPASS e calculando a idade dos sistemas estelares binários, os cientistas foram capazes de demonstrar que o aglomerado globular do qual fazem parte não era tão antigo quanto outros modelos sugeriram.

Os modelos BPASS, desenvolvidos em colaboração com o Dr. JJ Eldridge da Universidade de Auckland, já se haviam mostrado eficazes na exploração das propriedades de populações estelares jovens em ambientes que vão desde a nossa Via Láctea até ao limite do Universo.

"A determinação das idades das estrelas esteve sempre dependente da comparação das observações com os modelos que encapsulam a nossa compreensão de como as estrelas se formam e evoluem. Essa compreensão tem mudado ao longo do tempo e estamos cada vez mais conscientes dos efeitos da multiplicidade estelar, as interações entre as estrelas e as suas companheiras binárias e terciárias," disse a Dra. Elizabeth Stanway, do Grupo de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Warwick.

"A ser verdade, muda a nossa imagem dos estágios iniciais da evolução das galáxias e o local onde as estrelas que acabaram nas galáxias massivas de hoje, como a Via Láctea, podem ter-se formado. O nosso objetivo é continuar esta investigação, explorando tanto as melhorias na modelagem como as previsões observáveis que delas podem surgir," complementa Eldridge.

Um artigo científico foi aceito para publicação pela revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: University of Warwick

sábado, 9 de junho de 2018

A dinâmica de objetos isolados no Sistema Solar

De acordo com um novo estudo, interações parecidas com as dos carrinhos de choque, nas orlas do nosso Sistema Solar, e não um misterioso Planeta Nove, podem explicar a dinâmica de corpos estranhos chamados "objetos isolados".

ilustração de Sedna

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de Sedna)

A professora assistente Ann-Marie Madigan da Universidade do Colorado em Boulder, EUA, e sua equipe de pesquisadores, desenvolveram uma nova teoria para a existência de objetos esquisitos como Sedna, um planeta menor gelado que orbita o Sol a uma distância de quase 12,8 bilhões de quilômetros. Os cientistas têm tentado explicar por que Sedna e um punhado de outros corpos àquela distância pareciam separados do resto do Sistema Solar.

Uma teoria sugere um novo planeta, ainda invisível, à espreita localizado além de Netuno, que pode ter empurrado as órbitas destes objetos isolados.

Os pesquisadores calcularam que as órbitas de Sedna e de outros objetos semelhantes podem resultar da atração gravitacional entre estes corpos e detritos espaciais no Sistema Solar exterior.

O projeto debruça-se sobre o Sistema Solar exterior, um local ocupado por planetas menores, como Plutão, luas geladas e outros detritos espaciais.

Sedna demora mais de 11.000 anos para completar uma órbita em torno do Sol e é um pouco menor que Plutão. Ao contrário do nono planeta original, Sedna e outros objetos isolados completam órbitas enormes e excêntricas que os mantêm bem longe dos gigantes planetários como Júpiter ou Netuno. Como lá chegaram permanece um mistério.

Entra aqui o hipotético Planeta Nove. Os astrônomos têm vindo a procurar um planeta como este, que teria cerca de 10 vezes o tamanho da Terra, há já aproximadamente dois anos, mas ainda não o localizaram com telescópios.

A equipe de Madigan originalmente não pretendia procurar outra explicação para estas órbitas. Ao invés, Jacob Fleisig, estudante de astrofísica da mesma universidade norte-americana, estava desenvolvendo simulações de computador para explorar a dinâmica dos objetos isolados.

Fleisig havia calculado que as órbitas de objetos gelados localizados além de Neptuno orbitam o Sol como os ponteiros de um relógio. Algumas destas órbitas, como as de asteroides, movem-se como o ponteiro dos minutos, ou relativamente depressa e em conjunto. Outras, como as órbitas de objetos maiores como Sedna, movem-se mais devagar. Correspondem ao nosso ponteiro da hora. Eventualmente, estes ponteiros encontram-se.

Um amontoado de órbitas de objetos menores são vistos num lado do Sol. Estas órbitas 'colidem' com o corpo maior, e o que acontece é que estas interações mudam a sua órbita de uma forma oval para uma forma mais circular.

Por outras palavras, a órbita de Sedna passa de normal para isolada, inteiramente por causa destas interações em pequena escala. As descobertas da equipe também estão de acordo com observações recentes. Um estudo de 2012 observou que quanto maior é um objeto isolado, mais distante a sua órbita se torna do Sol, exatamente o que os cálculos de Fleisig mostraram.

As descobertas podem fornecer novas pistas sobre outro fenômeno: a extinção dos dinossauros. À medida que os detritos espaciais interagem no Sistema Solar exterior, as órbitas destes objetos estreitam-se e alargam-se num ciclo de repetição. Este ciclo pode acabar por disparar cometas em direção ao Sistema Solar interior, inclusive na direção da Terra, numa escala previsível de tempo.

Os cientistas apresentaram os seus achados na 232.ª reunião da Sociedade Astronômica Americana, que se realizou entre os dias 3 e 7 de junho em Denver, no estado norte-americano do Colorado.

Fonte: University of Colorado Boulder

sexta-feira, 8 de junho de 2018

O choque da galáxia NGC 3256

Marcada por uma região central excepcionalmente brilhante, faixas de poeira rodopiantes e caudas de maré distantes, a galáxia peculiar NGC 3256 é o rescaldo de uma colisão cósmica.

NGC 3256

© Hubble (NGC 3256)

O confronto de 500 milhões de anos de idade de duas galáxias separadas abrange cerca de 100 mil anos-luz nesta visão nítida do telescópio espacial Hubble. Quando duas galáxias colidem, estrelas individuais raramente o fazem. Nuvens galácticas gigantescas de gás molecular e poeira interagem, e produzem explosões espetaculares de formação estelar.

Neste embate de galáxias, as duas galáxias espirais originais tinham massas semelhantes. Seus discos não são mais distintos e os dois núcleos galácticos estão escondidos pela poeira obscurecida. Na escala de tempo de algumas centenas de milhões de anos, os núcleos provavelmente também se fundirão quando a NGC 3256 se tornar uma única grande galáxia elíptica.

A NGC 3256 está a quase 100 milhões de anos-luz de distância em direção à constelação Vela. A imagem inclui muitas galáxias de fundo ainda mais distantes e estrelas brilhando em primeiro plano.

Fonte: NASA

Encontrada galáxia inalterada desde o início do Universo

Pesquisadores do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) confirmam a primeira detecção de uma relíquia galáctica com o telescópio espacial Hubble.

NGC 1277

© Hubble (NGC 1277)

Há um cálculo que sugere que apenas uma em mil galáxias massivas é uma relíquia do Universo primitivo, conservando intactas as propriedades que tinha quando foi formada há milhares de milhões de anos.

Por esta razão, quando os pesquisadores do Instituto de Astrofísica de Canárias (IAC) e da Universidade de La Laguna (ULL), Michael Beasley e Ignacio Trujillo localizaram esta raridade, usaram o telescópio espacial Hubble para observar os aglomerados globulares em torno dela, e assim confirmar o que tinha sido sugerido pelas observações que eles tinham feito com telescópios terrestres.

Os aglomerados globulares são grupos de estrelas que orbitam ao redor de galáxias e foram formados com as galáxias no nascimento.

Existem dois tipos de populações de aglomerados globulares: os vermelhos, que nascem em galáxias massivas, que são encontrados mais perto de seus centros e têm maior conteúdo de elementos pesados ​​do que de hélio, e os azuis, que têm uma fração menor de metais e que são encontrados em torno de galáxias massivas como consequência da absorção de galáxias menores.

A análise destes aglomerados ajuda a fornecer informações sobre a história das galáxias.

Os resultados da pesquisa mostraram que a galáxia NGC 1277 possui apenas o aglomerado globular vermelho que se formou junto com ela durante o período de formação. Desde então, permaneceu inalterado. A galáxia NGC 1277 é composta por um bilhão de estrelas.

“Os sistemas de aglomerados globulares são muito sensíveis à história da formação de galáxias. Esta é a primeira vez que uma galáxia tão massiva foi observada com tão poucos aglomerados globulares azuis,” explica Michael Beasley.

É na zona central do Aglomerado Perseu, a maior concentração de galáxias perto da Via Láctea, e sua proximidade relativa, 70 Mpc (1 Megaparsec = 225 milhões de anos-luz) torna o objeto ideal para analisar as propriedades de uma galáxia que permaneceu essencialmente inalterada desde os primeiros dias do Universo.

Quando esta galáxia nasceu, deu origem a 1.000 estrelas por ano, enquanto, para comparação, a Via Láctea está formando apenas uma estrela por ano.

O motivo que esta galáxia massiva manteve sua forma e composição originais inalteradas durante todo este tempo é porque se formou como um satélite da galáxia central do aglomerado Perseu, que absorveu qualquer material que pudesse ter caído sobre a NGC 1277 e fez com que evoluísse de forma diferente. Ela orbita a galáxia central agora, a uma velocidade de 1.000 quilômetros por segundo.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature.

Fonte: Instituto de Astrofísica de Canarias

Os perigos intrínsecos do sistema estelar mais próximo

Na busca da humanidade por vida fora do nosso Sistema Solar, um dos melhores lugares considerados pelos cientistas é Alpha Centauri, um sistema que contém as três estrelas mais próximas além do nosso Sol.

Alpha Centauri

© ESO (Alpha Centauri)

Um novo estudo que envolveu o monitoramento de Alpha Centauri por mais de uma década pelo observatório de raios X Chandra da NASA fornece notícias encorajadoras sobre um aspecto fundamental da habitabilidade planetária.

Isso indica que quaisquer planetas orbitando as duas estrelas mais brilhantes no sistema Alpha Centauri provavelmente não serão atingidos por grandes quantidades de radiação de raios X de suas estrelas hospedeiras.

Os raios X são ruins para a vida desprotegida, diretamente através de altas doses de radiação e indiretamente através da remoção de atmosferas planetárias, um destino que se acredita ter sido sofrido pelo planeta Marte.

Alpha Centauri é um sistema triplo de estrelas localizado a pouco mais de quatro anos-luz, ou cerca de 40 trilhões de quilômetros, da Terra.

As estrelas no sistema Alpha Centauri incluem o par chamado Alpha Centauri A e Alpha Centauri B, que orbitam relativamente perto uma da outra.

Alpha Centauri A é uma gêmea próxima do nosso Sol em quase todos os sentidos, incluindo a idade, enquanto Alpha Centauri B é um pouco menor e mais escura, mas ainda assim bastante semelhante ao Sol. O terceiro membro, Alpha Centauri C, também conhecido como Proxima Centauri, é uma estrela anã vermelha muito menor que viaja ao redor do par AB em uma órbita muito maior que a leva mais de 10 mil vezes mais do que o par da distância Terra-Sol.

Proxima Centauri atualmente detém o título de estrela mais próxima da Terra, embora AB seja muito próximo.

Os dados do Chandra revelam que as perspectivas de vida em termos de bombardeio de raios X atuais são realmente melhores em torno do Alpha Centauri A do que do Sol, e as tarifas da Alpha Centauri B são apenas ligeiramente piores. Proxima Centauri, por outro lado, é um tipo de estrela anã vermelha ativa conhecida por enviar perigosas explosões de radiação de raios X, e é provavelmente hostil à vida.

Enquanto um planeta notável do tamanho da Terra foi descoberto em torno de Proxima Centauri, os astrônomos continuam procurando, sem sucesso, exoplanetas ao redor de Alpha Centauri A e B.

A caça ao planeta em torno destas estrelas provou ser mais difícil recentemente devido à órbita do par atrair as duas estrelas brilhantes juntas no céu na última década.

Para ajudar a determinar se as estrelas de Alpha Centauri são hospitaleiras, astrônomos realizaram uma campanha de longo prazo na qual o Chandra observa as duas principais estrelas do sistema a cada seis meses desde 2005.

Durante a atual abordagem orbital próxima, para determinar qual estrela está fazendo o quê, o Chandra é atualmente o único observatório de raios X capaz de possuir resolução para observar o sistema AB.

Estas medições de longo prazo captaram os altos e baixos da atividade de raios X do sistema AB, análoga ao ciclo de 11 anos da atividade solar. Elas mostram que quaisquer planetas na zona habitável por Alpha Centauri A receberiam uma dose menor de raios X, em média, do que planetas semelhantes em torno do Sol. Para Alpha Centauri B a dose de raios X para os planetas na zona habitável é maior do que para o Sol, mas apenas cinco vezes maior.

Em comparação, os planetas na zona habitável em torno de Proxima Centauri recebem uma dose média de raios X cerca de 500 vezes maior que a Terra e 50.000 vezes maior durante uma grande emissão.

Além de iluminar a possível habitabilidade dos planetas de Alpha Centauri, o Chandra possibilita explorações teóricas da atividade de raios X cíclicos do nosso próprio Sol.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

terça-feira, 5 de junho de 2018

Sinais de água são encontrados em exoplaneta único

Uma equipe internacional de pesquisadores identificou "impressões digitais" de múltiplos metais num dos exoplanetas menos densos já encontrados.

ilustração do explaneta WASP-127b e da sua estrela hospedeira

© IAC (ilustração do explaneta WASP-127b e da sua estrela hospedeira)

A equipe, da Universidade de Cambridge e do IAC (Instituto de Astrofísica das Canárias), usou o GTC (Gran Telescopio Canarias) para observar o exoplaneta WASP-127b, um gigante gasoso com céus parcialmente limpos e assinaturas fortes de metais na sua atmosfera.

O WASP-127b tem um raio 1,4 vezes maior do que o de Júpiter, mas apenas 20% da sua massa. Um tal planeta não tem análogo no nosso Sistema Solar e é raro até nos milhares de exoplanetas descobertos até agora. Demora pouco mais de quatro dias a orbitar a sua estrela progenitora e a sua temperatura é cerca de 1.400 K (1127º C).

As observações do WASP-127b revelam a presença de uma grande concentração de metais alcalinos na sua atmosfera, permitindo a detecção simultânea de sódio, potássio e lítio pela primeira vez num exoplaneta. As absorções de sódio e potássio são muito amplas, o que é característico para atmosferas relativamente limpas. De acordo com o trabalho de modelagem feito pelos cientistas, os céus do WASP-127b são aproximadamente 50% limpos.

A presença de lítio é importante para entender a história evolutiva do sistema planetário e pode fornecer informações sobre os mecanismos de formação planetária.

A estrela hospedeira do planeta, a WASP-127, é também rica em lítio, o que poderá apontar para que uma estrela AGB - uma gigante vermelha e brilhante milhares de vezes mais luminosa do que o Sol - ou uma supernova tenha enriquecido a nuvem de material da qual este sistema se formou.

Os pesquisadores também encontraram possíveis sinais de água. Embora esta detecção não seja estatisticamente significativa, já que as características da água são fracas na faixa visível, os dados indicam que observações adicionais no infravermelho próximo devem ser capazes de a detectar.

Os resultados demonstram o potencial dos telescópios terrestres para o estudo das atmosferas planetárias.

Este exoplaneta também será uma referência para futuros estudos com telescópios espaciais, como o telescópio James Webb, o sucessor do telescópio Hubble. Estes estudos futuros vão revelar a natureza detalhada do WASP-127b como referência para esta nova classe de exoplanetas de densidade muito baixa.

Os resultados foram aceitos para publicação na revista Astronomy & Astrophysics.

Fonte: University of Cambridge