sábado, 7 de maio de 2022

Um raro binário com a órbita mais curta conhecida

O clarão de uma estrela próxima atraiu os astrônomos do Massachusetts Institute of Technology (MIT) para um novo e misterioso sistema a 3.000 anos-luz da Terra.


© NASA (ilustração de um pulsar e da sua companheira estelar)

Este estranho objeto estelar parece ser um novo binário "viúva negra", ou seja, uma estrela de nêutrons com rotação rápida, ou pulsar, que está circulando e consumindo lentamente uma estrela companheira menor, como o homônimo aracnídeo faz ao seu companheiro. Os astrônomos conhecem cerca de duas dúzias de "binários de viúvas negras" na Via Láctea.

Este novo candidato, chamado ZTF J1406+1222, tem o período orbital mais curto até agora identificado, com o pulsar e a estrela companheira orbitam um ao outro a cada 62 minutos. O sistema é único, na medida em que parece abrigar uma terceira estrela distante, que orbita em torno das duas estrelas interiores com um período de 10.000 anos. 

Esta provável viúva negra tripla está levantando questões sobre como um tal sistema pode ter sido formado. Com base nas suas observações, a equipe do MIT propõe uma história de origem: tal como a maioria dos binários de viúvas negras, o sistema triplo provavelmente surgiu de uma densa constelação de estrelas velhas conhecida como aglomerado globular. Este aglomerado em particular pode ter-se dirigido para o centro da Via Láctea, onde a gravidade do buraco negro central foi suficiente para fragmentar o aglomerado, deixando intacta a viúva negra tripla. Este sistema flutua provavelmente na Via Láctea há mais tempo do que o Sol.

Os pesquisadores utilizaram uma nova abordagem para detectar o sistema triplo. Enquanto a maioria dos binários de viúvas negras são encontrados através dos raios gama e raios X emitidos pelo pulsar central, foi utilizada a luz visível, e especificamente o piscar da estrela companheira do binário, para detectar ZTF J1406+1222.

Os binários de viúvas negras são alimentados por pulsares, estrelas de nêutrons de rotação rápida que são os núcleos colapsados de estrelas massivas. Os pulsares têm um período de rotação vertiginoso, girando a cada poucos milissegundos e emitindo no processo flashes de raios gama e raios X altamente energéticos. Normalmente, os pulsares diminuem a sua rotação e morrem relativamente depressa à medida que queimam uma enorme quantidade de energia. 

Mas de vez em quando, uma estrela passageira pode dar uma nova vida ao pulsar. Quando uma estrela se aproxima, a gravidade do pulsar retira material da estrela, o que fornece nova energia à sua rotação. O pulsar "reciclado" começa então a radiar energia novamente que retira ainda mais material à estrela, eventualmente destruindo-a.

Todos os binários de viúvas negras até à data foram detectados através dos flashes de raios gama e raios X do pulsar. O ZTF J1406+1222 foi o primeiro sistema do gênero a ser detectado graças ao flash óptico da estrela companheira. Ao que parece, o lado diurno da estrela companheira, ou seja, o lado perpetuamente virado para o pulsar, pode ser muitas vezes mais quente do que o seu lado noturno, devido à constante radiação altamente energética que recebe do pulsar.

Os astrônomos examinaram dados ópticos obtidos pelo ZTF (Zwicky Transient Facility), um observatório no estado norte-americano da Califórnia que recolhe imagens de campo amplo do céu noturno. A equipe estudou o brilho das estrelas para ver se alguma estava mudando dramaticamente por um fator de 10 ou mais, numa escala de tempo de cerca de uma hora ou menos, sinais que indicam a presença de um pulsar em órbita íntima. A equipa foi capaz de discernir uma dúzia de binários de viúvas negras conhecidos, validando a precisão do novo método. Depois avistaram uma estrela cujo brilho mudava por um fator de 13, a cada 62 minutos, indicando que fazia provavelmente parte de um novo binário viúva negra, que rotularam de ZTF J1406+1222.

Procuraram a estrela em observações feitas pelo Gaia, um telescópio espacial operado pela ESA que mantém medições precisas da posição e movimento das estrelas no céu. Analisando medições da estrela para trás no tempo, graças aos dados do SDSS (Sloan Digital Sky Survey), foi descoberto que o binário estava sendo seguido por outra estrela distante. 

Curiosamente, os astrônomos não detectaram diretamente emissões de raios gama ou raios X do pulsar no binário, que é a forma típica de confirmação das viúvas negras. Portanto, o ZTF J1406+1222 é considerado um candidato a binário viúva negra, que a equipe espera confirmar com futuras observações. 

A equipe planeja continuar observando o novo sistema, bem como a aplicar a técnica óptica para iluminar mais estrelas de nêutrons e viúvas negras no céu. 

O estudo publicado na revista Nature.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

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