domingo, 1 de novembro de 2020

O mistério de galáxia composta quase inteiramente por matéria escura

Até o momento, é difícil explicar o processo que leva à formação das galáxias sem evocar a presença de um componente onipresente mas misterioso: a chamada matéria escura.

© Gemini (Dragonfly 44 no centro)

Graças a muitas medições já feitas nas regiões ao redor de galáxias, os astrônomos estimam que a quantidade de matéria escura que uma certa galáxia possui seja de 10 até 30 vezes superior à quantidade de matéria visível. 

Porém, a descoberta de um objeto muito difuso, chamado Dragonfly 44, ocorrida alguns anos atrás, desafiou essa ideia. Constatou-se que, nessa galáxia, a quantidade estimada de matéria escura superava a massa formada por suas estrelas visíveis em 10 mil vezes.

Animados por esta descoberta, os astrônomos procuraram determinar se se tratava de um objeto realmente anômalo, ou se teria acontecido algo de errado durante a análise das observações. Agora temos a resposta. Uma equipe internacional liderada pelo Instituto Kapteyn, da Universidade de Groningen, na Holanda, e com participação do Instituto de Astrofísica de Canarias (IAC) e da Universidade de La Laguna, descobriu que o número total de aglomerados globulares ao redor da Dragonfly 44, e, portanto, o conteúdo de matéria escura, é muito menor do que sugeriram as descobertas iniciais. Isso mostra que a galáxia não é uma anomalia. 

A galáxia Dragonfly 44 foi descoberta durante uma grande pesquisa sobre o aglomerado Coma, que é composto por milhares de galáxias. Desde o início, a galáxia causou espanto junto aos pesquisadores. As estimativas atribuíam a ela uma quantidade de matéria escura quase equivalente à que existe na Via Láctea, na ordem dos bilhões de massas solares.

Porém, diferentemente da Via Láctea, que possui centenas de bilhões de estrelas ao seu redor, a DF44 é circundada por apenas centenas de milhares de estrelas, um número milhares de vezes menor. Isso implicava uma quantidade de matéria escura dez vezes maior do que a massa de suas estrelas. 

Se os cálculos estivessem corretos, isso tornaria a galáxia um objeto singular, com quase 100 vezes mais matéria escura do que o que seria de se esperar a partir do número de suas estrelas. Porém, uma análise exaustiva revelou que o total de aglomerados globulares que existem ao redor da Dragonfly 44 é de somente 20. 

Além disso, o total de matéria escura estimado nesse estudo equivale a apenas cerca de 300 vezes o total de matéria luminosa. “O fato de termos encontrado apenas 20 aglomerados globulares, em contraste com os 80 relatados anteriormente, reduz drasticamente as estimativas para a quantidade de matéria escura na galáxia,” diz Ignacio Trujillo, pesquisador do IAC.

Com esse número de aglomerados globulares, a quantidade de matéria escura que é estimada para a Dragonfly 44 está de acordo com o que é esperado para esse tipo de galáxia. A taxa entre matéria visível e matéria escura não é mais de 1 para 10 mil, mas 1 para 300. “Agora, sabemos que os resultados anteriores estavam errado e que a DF44 não é nada de extraordinário, pontua Teymoor Saifollahi, pesquisador no Instituto Kapteyn. 

“Entretanto, nós não temos uma explicação física para essa relação entre o número total de aglomerados globulares e a quantidade total de galáxias. Isso é um conhecimento puramente observacional. Pode haver alguma relação com a quantidade original do gás a partir do qual se formaram as estrelas, e os aglomerados globulares. Quanto mais matéria escura existe em uma galáxia, mais gás ela contém,” sugere Johan H. Knapen, pesquisador da IAC. 

Os resultados foram publicados recentemente no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Scientific American

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