sábado, 21 de outubro de 2023

Detectada a mais distante explosão de rádio rápida

Uma equipe internacional de astrônomos detectou uma explosão de ondas de rádio cósmicas remota que durou menos de um milissegundo.

© ESO (ilustração de uma explosão de rádio rápida)

Esta imagem ilustra o percurso da explosão de rádio rápida (FRB, sigla do inglês para Fast Radio Burst), desde a galáxia distante onde teve origem até à Terra, num dos braços em espiral da Via Láctea

Esta FRB é a mais distante descoberta até à data. A sua fonte foi localizada pelo Very Large Telescope (VLT) do ESO numa galáxia tão distante que a sua luz demorou 8 bilhões de anos para chegar até nós. Esta explosão é também uma das mais energéticas alguma vez observada; numa pequena fração de segundo foi liberado o equivalente à emissão total do nosso Sol em 30 anos. 

A descoberta da explosão, denominada FRB 20220610A foi feita em Junho do ano passado pelo radiotelescópio ASKAP na Austrália e bateu o anterior recorde de distância em 50%. 

Confirmando que as FRBs podem ser usadas para medir a matéria "em falta" entre as galáxias, fornecendo assim uma nova forma de "pesar" o Universo. Os atuais métodos para estimar a massa do Universo estão dando respostas contraditórias e pondo em causa o modelo padrão da cosmologia. Se for contada a quantidade de matéria normal no Universo, ou seja, os átomos que nos constituem, verifica-se que falta mais de metade do que deveria existir atualmente. Pensa-se que a matéria em falta está escondida no espaço entre as galáxias, mas pode estar tão quente e difusa que se torna impossível vê-la utilizando técnicas normais. As explosões de rádio rápidas detectam este material ionizado. Mesmo no espaço que está praticamente vazio, estes eventos conseguem perceber todos os elétrons, o que permite medir a quantidade de matéria existente entre as galáxias. 

Encontrar FRBs distantes é fundamental para medir com precisão a matéria em falta no Universo, como demonstrou o falecido astrônomo australiano Jean-Pierre ("J-P") Macquart em 2020. Ele mostrou que quanto mais distante se encontrar uma explosão de rádio rápida, mais gás difuso revelará entre as galáxias. Este fato é agora conhecido como a relação de Macquart. Algumas explosões de rádio rápidas recentes parecem quebrar esta relação. 

As medições recentes confirmam que a relação de Macquart se mantém para além de metade do Universo conhecido. Embora não é conhecido ainda o que causa estas enormes explosões de energia, este trabalho confirma que as explosões de rádio rápidas são acontecimentos comuns no cosmos e que é possível usá-las para detectar matéria entre as galáxias e assim compreender melhor a estrutura do Universo. 

Este resultado representa o limite do que é possível obter com os atuais telescópios, no entanto os astrônomos em breve disporão de instrumentos para detectar explosões ainda mais antigas e distantes, identificar as galáxias de origem e medir a matéria em falta no Universo. A organização internacional Square Kilometre Array Observatory (SKAO) está atualmente construindo dois radiotelescópios, na África do Sul e na Austrália, que serão capazes de encontrar milhares de FRBs, incluindo as muito distantes que não podem ser detectadas com as infraestruturas atuais. 

O Extremely Large Telescope do ESO, um telescópio de 39 metros que está sendo construído no deserto chileno do Atacama, será um dos poucos telescópios capazes de estudar as galáxias de origem de explosões ainda mais distantes do que a FRB 20220610A. 

Este trabalho de pesquisa foi descrito num artigo científico intitulado “A luminous fast radio burst that probes the Universe at redshift 1” publicado na revista Science

Fonte: ESO

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