sábado, 25 de abril de 2020

Exoplaneta aparentemente desaparece nas últimas observações do Hubble

O que os astrônomos pensavam ser um planeta localizado além do nosso Sistema Solar, aparentemente desapareceu de vista.


© ESA/NASA/M. Kornmesser (colisão de dois objetos em órbita da estrela Fomalhaut)

Uma interpretação é que, em vez de ser um objeto planetário, fotografado pela primeira vez em 2004, Fomalhaut b pode na realidade ser uma vasta nuvem de poeira em expansão, produzida numa colisão entre dois grandes corpos que orbitam a próxima e brilhante estrela Fomalhaut. Potenciais observações de acompanhamento poderão confirmar esta conclusão extraordinária.

O objeto, chamado Fomalhaut b, foi anunciado pela primeira vez em 2008, com base em dados obtidos em 2004 e 2006. Era claramente visível em vários anos de observações do telescópio espacial Hubble que revelaram que era um ponto em movimento. Até então, as evidências de exoplanetas tinham sido inferidas principalmente por métodos de detecção indireta, como as sutis oscilações estelares e sombras de planetas passando à sua frente.

No entanto, ao contrário de outros exoplanetas fotografados diretamente, com Fomalhaut b os quebra-cabeças persistentes surgiram bem cedo. O objeto era excepcionalmente brilhante no visível, mas não tinha nenhuma assinatura infravermelha detectável. Os astrônomos conjecturaram que o brilho adicional veio de uma enorme concha ou anel de poeira em torno do planeta que podia estar relacionado com uma colisão. A órbita de Fomalhaut b também parecia incomum, possivelmente muito excêntrica.

"O nosso estudo, que analisou todos os dados de arquivo do Hubble sobre Fomalhaut, revelou várias características que, juntas, pintam uma imagem de que o objeto com o tamanho de um planeta pode nunca ter sequer existido," disse András Gáspár, da Universidade do Arizona, EUA.

A equipe enfatiza que a análise dos dados das imagens do telescópio espacial Hubble captadas em 2014 mostrou que o objeto havia desaparecido. A somar ao mistério, imagens anteriores mostraram que o objeto diminuía continuamente de brilho ao longo do tempo.

A interpretação é que Fomalhaut b está se expandindo lentamente de uma colisão que lançou uma nuvem de poeira para o espaço. Levando em consideração todos os dados disponíveis, os pesquisadores pensam que a colisão ocorreu não muito antes das primeiras observações feitas em 2004. Atualmente, a nuvem de detritos, composta por partículas de poeira com aproximadamente 1 micrômetro (1/50 do diâmetro de um cabelo humano), está abaixo do limite de detecção do telescópio espacial Hubble. Estima-se que a nuvem de poeira tenha agora crescido para um tamanho superior ao da órbita da Terra em torno do nosso Sol.

Igualmente confuso, é que a equipe relata que o objeto está provavelmente numa rota de escape, em vez de numa órbita elíptica, como esperado para planetas. Isto baseia-se nas observações acrescentadas posteriormente aos gráficos de trajetória de dados mais antigos. O modelo aplicado é capaz de explicar naturalmente todos os parâmetros observáveis independentes do sistema: o seu ritmo de crescimento, o seu desvanecimento e a sua trajetória.

Dado que Fomalhaut b está atualmente dentro de um vasto anel de detritos gelados que rodeia a estrela, os corpos em colisão provavelmente seriam uma mistura de gelo e poeira, como os cometas que existem no Cinturão de Kuiper na orla externa do nosso Sistema Solar. Estima-se que cada um destes corpos semelhantes a cometas mede cerca de 200 km (cerca de metade do tamanho do asteroide Vesta).

Segundo os autores, o seu modelo explica todas as características observadas de Fomalhaut b. A modelagem sofisticada da dinâmica da poeira, feita numa rede de computadores da Universidade do Arizona, mostra que este modelo é capaz de ajustar quantitativamente todas as observações. Segundo os cálculos, no sistema Fomalhaut, localizado a cerca de 25 anos-luz da Terra, pode ocorrer um evento deste gênero a cada 200.000 anos.

Um artigo foi publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Fonte: Space Telescope Science Institute

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