quarta-feira, 30 de abril de 2025

Instantâneo de uma galáxia espiral peculiar

Uma bela, porém distorcida, galáxia espiral deslumbra na imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble.

© Hubble (Arp 184)

Esta galáxia, chamada Arp 184 ou NGC 1961, situa-se a cerca de 190 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Camelopardalis (A Girafa). 

O nome Arp 184 vem do Atlas de Galáxias Peculiares, compilado pelo astrônomo Halton Arp em 1966. As 338 galáxias no atlas têm formas estranhas, tendendo a não ser nem totalmente elípticas nem totalmente espirais. Muitas das galáxias estão em processo de interação com outras galáxias, enquanto outras são galáxias anãs sem estruturas bem definidas.

A galáxia Arp 184 conquistou seu lugar no catálogo graças ao seu único braço espiral amplo e salpicado de estrelas que parece se estender em nossa direção. O lado oculto da galáxia ostenta alguns fragmentos de gás e estrelas, mas não possui um braço espiral igualmente impressionante.

Esta imagem do telescópio espacial Hubble combina dados de três programas de observação Snapshot, compostos por observações curtas que podem ser encaixadas em intervalos de tempo entre outras propostas. Um dos três programas teve como alvo o Arp 184 devido à sua aparência peculiar. Este programa pesquisou galáxias listadas no Atlas de Galáxias Peculiares, bem como no Catálogo de Galáxias Peculiares do Sul e Associações, um catálogo semelhante compilado por Halton Arp e Barry Madore. Os dois programas restantes foram projetados para verificar as consequências de eventos astronômicos fugazes, como supernovas e eventos de ruptura de maré, quando uma estrela é dilacerada após vagar muito perto de um buraco negro supermassivo.

Como a galáxia Arp 184 hospedou quatro supernovas conhecidas nas últimas três décadas, é um alvo rico para uma busca por supernovas.

Fonte: ESA

As "super-Terras" com órbitas muito alongadas

Um novo estudo mostra que os planetas maiores do que a Terra e menores do que Netuno são comuns para lá do Sistema Solar.

© U. Westlake (populações de planetas na direção do bojo da Via Láctea)

A mesma equipe internacional anunciou também a descoberta de um exoplaneta com cerca de duas vezes o tamanho da Terra, que orbita a sua estrela a uma distância superior à de Saturno em torno do Sol. Estes resultados são outro exemplo de como os sistemas planetários podem ser diferentes do nosso Sistema Solar.

Este objeto é uma "super-Terra", que é maior do que o nosso planeta natal, mas menor do que Netuno, e está num local onde antes só se encontravam planetas milhares ou centenas de vezes mais massivos do que a Terra. 

A descoberta desta nova super-Terra, mais distante, é ainda mais significativa porque faz parte de um levantamento mais alargado. Ao medir as massas de muitos planetas relativamente às estrelas que os acolhem, foi descoberto novas informações sobre as populações de planetas na Via Láctea. 

Este estudo utilizou microlentes gravitacionais, um efeito em que a luz de objetos distantes é ampliada por um corpo interveniente, como um planeta. As microlentes são particularmente eficazes para encontrar exoplanetas a grandes distâncias, aproximadamente entre as órbitas da Terra e de Saturno, das suas estrelas hospedeiras. O maior estudo do seu gênero, este trabalho tem cerca de três vezes mais exoplanetas e inclui alguns cerca de oito vezes menores do que amostras anteriores encontradas usando a técnica de microlente. 

Os pesquisadores utilizaram dados da KMTNet (Korea Microlensing Telescope Network). Esta rede é constituída por três telescópios no Chile, África do Sul e Austrália, o que permite um monitoramento ininterrupto do céu noturno.

O nosso Sistema Solar é constituído por quatro planetas interiores pequenos e rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) e quatro planetas exteriores grandes e gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). As pesquisas exoplanetárias efetuadas até à data utilizando outras técnicas, ou seja, de planetas em trânsito com telescópios como o Kepler e o TESS e pesquisas de velocidade radial, mostraram que outros sistemas podem conter uma variedade de planetas pequenos, médios e grandes em órbitas menores do que a da Terra em torno do Sol. O último trabalho da equipe liderada pelo Centro de Astrofísica do Harvard & Smithsonian mostra que as super-Terras também são comuns nas regiões exteriores de outros sistemas solares.

Este resultado sugere que, em órbitas semelhantes às de Júpiter, a maioria dos sistemas planetários pode não espelhar o nosso Sistema Solar. Os astrônomos estão também tentando determinar quantas super-Terras existem em comparação com o número de exoplanetas do tamanho de Netuno. Este estudo mostra que existem pelo menos tantas super-Terras quanto planetas do tamanho de Netuno.

Um artigo foi publicado na revista Science.

Fonte: Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics

Os anéis de Saturno podem desaparecer?

Onde estão as "orelhas" de Saturno?

© Natan Fontes (anéis de Saturno)

Foi Galileu, em 1610, a primeira pessoa a ver os anéis de Saturno. Testando o telescópio recém-inventado por Lipperhey, Galileu não sabia o que eram e, por isso, os chamou de "orelhas".

O mistério se aprofundou em 1612, quando as orelhas de Saturno desapareceram misteriosamente. Hoje sabemos exatamente o que aconteceu: da perspectiva da Terra, os anéis de Saturno se tornaram finos demais para serem vistos.

O mesmo drama se repete a cada 15 anos porque Saturno, assim como a Terra, passa por estações com inclinação. Isso significa que, à medida que Saturno gira em torno do Sol, seu equador e anéis podem se inclinar visivelmente em direção ao Sol e ao Sistema Solar interno, tornando-os facilmente visíveis, mas de outras posições orbitais quase não aparecerão.

A fotografia em destaque, obtida em Brasília (Brasil) por Natan Fontes, mostra uma versão moderna dessa sequência: a imagem superior, dominada pelos anéis, foi tirada em 2020, enquanto a imagem inferior, obscura pelos anéis, foi tirada no início de 2025.

Fonte: NASA

sábado, 26 de abril de 2025

Lucy fotografa o asteroide Donaldjohanson

No seu segundo encontro com um asteroide, a sonda espacial Lucy da NASA conseguiu observar de perto um fragmento de um asteroide com um aspecto único, formado há cerca de 150 milhões de anos.

© NASA / Lucy (asteroide Donaldjohanson)

O asteroide Donaldjohanson visto pelo instrumento L'LORRI (Long-Range Reconnaissance Imager) da sonda Lucy durante o seu sobrevoo. Este pequeno vídeo mostra imagens captadas aproximadamente a cada 2 segundos, quando a sonda espacial começou a transmitir imagens que foram recolhidas do asteroide Donaldjohanson no passado dia 20 de abril. O asteroide gira muito lentamente; a sua rotação aparente aqui deve-se ao movimento da nave espacial enquanto passa por Donaldjohanson a uma distância de 1.600 a 1.100 km. A maior aproximação foi 960 km, mas as imagens aqui mostradas foram obtidas cerca de 40 segundos antes, as mais próximas a uma distância de 1.100 km.

O asteroide foi anteriormente observado como tendo grandes variações de brilho ao longo de um período de 10 dias, pelo que algumas das expectativas dos membros da equipe da Lucy foram confirmadas quando as primeiras imagens mostraram o que parecia ser um binário de contato alongado (um objeto formado quando dois corpos menores colidem). No entanto, a equipe ficou surpreendida com a forma estranha do pescoço estreito que liga os dois lóbulos, que se assemelha a dois cones de sorvete aninhados.

A partir de uma análise preliminar das primeiras imagens disponíveis obtidas pelo instrumento L'LORRI da nave espacial, o asteroide parece ser maior do que o inicialmente estimado, com cerca de 8 km de comprimento e 3,5 km de largura no ponto mais largo. Neste primeiro conjunto de imagens de alta resolução transmitidas pela sonda espacial, não é visível o asteroide por completo, uma vez que é maior do que o campo de visão da câmara. A equipa demorará mais alguns dias para receber os restantes dados do encontro; este conjunto de dados vai fornecer uma imagem mais completa da forma geral do asteroide.

Tal como o primeiro sobrevoo da Lucy, por Dinkinesh, Donaldjohanson não é um alvo científico primário da missão. Como planejado, a passagem por Dinkinesh foi um teste dos sistemas da missão, enquanto que este sobrevoo foi um ensaio geral, no qual a equipe realizou uma série de observações densas para maximizar o recolhimento de dados. Os dados recolhidos pelos outros instrumentos científicos da Lucy, a câmara a cores e o espectrômetro infravermelho, chamado L'Ralph, e o espectrômetro térmico, chamado L'TES (Thermal Emission Spectrometer), serão recebidos e analisados nas próximas semanas.

A sonda Lucy passará a maior parte do que resta de 2025 viajando pelo cinturão principal de asteroides. Irá encontrar o primeiro alvo principal da missão, o asteroide troiano de Júpiter Euríbates, em agosto de 2027. O potencial para realmente abrir uma nova janela para a história do nosso Sistema Solar quando a Lucy chegar aos asteroides troianos é imenso.

Fonte: NASA

Descoberto um exoplaneta que está se desintegrando rapidamente

Astrônomos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) descobriram um planeta a cerca de 140 anos-luz da Terra que está se desfazendo rapidamente em pedaços.

© MIT (planeta em desintegração orbita uma estrela gigante)

O mundo em desintegração tem aproximadamente a massa de Mercúrio, embora orbite cerca de 20 vezes mais perto da sua estrela do que Mercúrio do Sol, completando uma revolução a cada 30,5 horas. 

A uma tal proximidade da sua estrela, o planeta está provavelmente coberto de magma que é perdido para o espaço. À medida que o planeta gira em torno da sua estrela, está liberando uma enorme quantidade de minerais da superfície e efetivamente se evaporando. 

Os astrônomos detectaram o planeta usando o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA, uma missão liderada pelo MIT que monitora as estrelas mais próximas em busca de trânsitos, ou quedas periódicas no brilho estelar que podem ser sinais de exoplanetas em órbita. O sinal que chamou a atenção dos astrônomos foi um trânsito peculiar, com um mergulho que variava em profundidade em cada órbita. 

Os cientistas confirmaram que o sinal é de um planeta rochoso em órbita íntima que é seguido por uma longa cauda de detritos, semelhante à de um cometa. A dimensão da cauda é gigantesca, estendendo-se a mais de 14 milhões de quilômetros, ou seja, cerca de metade da órbita completa do planeta. Parece que o planeta está se desintegrando a um ritmo dramático, liberando uma quantidade de material equivalente a um Monte Everest de cada vez que orbita a sua estrela. A este ritmo, dada a sua pequena massa, os pesquisadores preveem que o planeta se possa desintegrar completamente daqui a cerca de 1 milhão a 2 milhões de anos.

O novo exoplaneta, denominado BD+05 4868 Ab, foi detectado quase por acaso. Os astrônomos não estavam à procura deste tipo de planeta, eles estavam fazendo a típica verificação de planetas e foi detectado esta breve queda na curva de luz, que se repete regularmente, indicando que um corpo compacto, como um planeta, está passando brevemente à frente da luz da sua estrela hospedeira, bloqueando-a temporariamente. 

Este padrão típico é diferente do que foi observado na estrela hospedeira BD+05 4868 A, localizada na constelação de Pégaso. Embora aparecesse um trânsito a cada 30,5 horas, o brilho demorava muito mais tempo para voltar ao normal, sugerindo uma longa estrutura que continuava bloqueando a luz estelar. Ainda mais intrigante é o fato da profundidade da queda mudar a cada órbita, sugerindo que o que quer que estivesse passando à frente da estrela não tinha sempre a mesma forma nem bloqueava a mesma quantidade de luz.

A forma do trânsito é típica de um cometa com uma cauda longa. Exceto que é improvável que esta cauda contenha gases voláteis e gelo, como se espera de um cometa típico, estes não sobreviveriam muito tempo a uma proximidade tão grande da estrela hospedeira. No entanto, os minerais evaporados da superfície planetária podem permanecer o tempo suficiente para apresentar uma cauda tão distinta. 

Dada a proximidade à sua estrela, estima-se que o planeta esteja sendo aquecido a cerca de 1.600º C. À medida que a estrela "assa" o planeta, quaisquer minerais na sua superfície estão provavelmente fervendo e escapando para o espaço, onde arrefecem numa longa e poeirenta cauda. O dramático declínio deste planeta é uma consequência da sua baixa massa, que está entre a de Mercúrio e a da Lua. Planetas terrestres mais massivos, como a Terra, têm uma atração gravitacional mais forte e, por isso, conseguem manter as suas atmosferas. No caso de BD+05 4868 Ab, os pesquisadores suspeitam que há muito pouca gravidade para manter o planeta unido. 

Este é um objeto muito pequeno, com uma gravidade muito fraca, por isso perde facilmente muita massa, o que enfraquece ainda mais a sua gravidade, perdendo ainda mais massa. É um processo descontrolado e só está piorando cada vez mais para o planeta. Dos quase 6.000 exoplanetas descobertos até agora, os cientistas conhecem apenas três outros em desintegração localizados além do nosso Sistema Solar. Cada um destes mundos em ruínas foi detectado há mais de 10 anos, utilizando dados do telescópio espacial Kepler da NASA.

Todos os três exoplanetas foram detectados com caudas semelhantes a cometas. BD+05 4868 Ab tem a cauda mais longa e os trânsitos mais profundos dos quatro planetas em desintegração conhecidos até agora. Isso implica que a sua evaporação é a mais catastrófica e que vai desaparecer muito mais depressa do que os outros planetas. A estrela que acolhe o planeta está relativamente perto e, por isso, é mais brilhante do que as estrelas que hospedam os outros três exoplanetas em desintegração, o que torna este sistema ideal para observações posteriores com o telescópio espacial James Webb, que pode ajudar a determinar a composição mineral da cauda de poeira, identificando as cores de luz infravermelha que absorve. 

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Um aglomerado estelar brilha novamente

Como parte das comemorações do 35º aniversário do Hubble, uma nova série de imagens foi compartilhada ao longo de abril para revisitar os impressionantes alvos do Hubble que foram divulgados anteriormente.

© Hubble (M72 fotografado atualmente)

Novas imagens da NGC 346, da Galáxia do Sombrero e da Nebulosa da Águia já foram publicadas. Agora, a ESA (European Space Agency) mostra nova imagem do telescópio espacial Hubble que está revisitando o aglomerado estelar Messier 72 (M72) com novos dados e técnicas de processamento de imagens realizados em 21 de abril deste ano.

O aglomerado estelar M72 é um alvo particularmente especial porque foi a primeira imagem publicada na série Imagem da Semana da ESA referente ao telescópio espacial Hublle, em 22 de abril de 2010.

© Hubble (M72 fotografado em 2010)

Há quinze anos, a equipe da ESA publica uma nova imagem do Hubble todas as segundas-feiras para o deleite de todos. Isso resultou na adição de quase 800 imagens ao vasto arquivo de imagens do Hubble ao longo dos anos. 

O aglomerado estelar M72 é um conjunto de estrelas, formalmente conhecido como aglomerado globular, localizado na constelação de Aquário, a aproximadamente 50.000 anos-luz da Terra. 

A intensa atração gravitacional entre as estrelas compactadas confere aos aglomerados globulares sua forma esférica regular. Cerca de 150 aglomerados como este foram descobertos na Via Láctea. 

A impressionante variedade de cores das estrelas nesta imagem de M72, particularmente em comparação com a imagem original, resulta da adição de observações em ultravioleta aos dados anteriores em luz visível. As cores indicam grupos de diferentes tipos de estrelas. Estrelas azuis são aquelas no aglomerado que eram originalmente mais massivas e agora atingiram temperaturas mais altas após queimarem grande parte de seu combustível de hidrogênio; os objetos vermelhos brilhantes são estrelas de menor massa que agora se tornaram gigantes vermelhas. 

O estudo desses diferentes grupos ajuda os astrônomos a entender como os aglomerados globulares e as galáxias em que eles nasceram se formaram inicialmente. Pierre Méchain, astrônomo francês e colega de Charles Messier, descobriu M72 em 1780. Foi o primeiro dos cinco aglomerados estelares que Méchain descobriria enquanto auxiliava Messier. Foi registrado como a 72ª entrada na famosa coleção de objetos astronômicos de Messier, e o objeto também é um dos aglomerados mais remotos do catálogo. 

A equipe de divulgação científica da ESA convida o público, bem como todos os cientistas que tiveram (ou terão) tempo de observação aprovado pelo Hubble, a entrarem em contato se acharem que possuem dados de imagens esteticamente atraentes, mas visualmente informativos, que possam ser apresentados nesta série!

Fonte: ESA