Mostrando postagens com marcador Galáxias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Galáxias. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Galáxias emaranhadas em Coma Berenices

O telescópio espacial Hubble apresenta uma joia no cabelo da rainha, uma galáxia espiral na constelação Coma Berenices, nomeada em homenagem ao cabelo da histórica rainha egípcia.

© Hubble (par de galáxias MCG+05-31-045)

No entanto, essa galáxia é apenas uma das muitas conhecidas nesta constelação. Essa nova imagem retrata o emaranhado cósmico que é MCG+05-31-045, um par de galáxias interagindo, localizadas a 390 milhões de anos-luz de distância numa parte do aglomerado de galáxias Coma. 

O aglomerado Coma é particularmente rico contendo mais de mil galáxias conhecidas. Várias podem ser facilmente vistas com telescópios amadores. A maioria delas são galáxias elípticas, e isso é típico de um aglomerado denso de galáxias. Muitas galáxias elípticas são formadas em encontros próximos entre galáxias que as agitam, ou mesmo colisões que as separam. 

Enquanto as estrelas nas galáxias em interação podem permanecer juntas, o gás nas galáxias apresenta um aspecto diferente, ele é torcido e comprimido por forças gravitacionais e rapidamente usado para formar novas estrelas. Quando as estrelas quentes, massivas e azuis morrem, resta pouco gás para substituí-las por novas gerações de estrelas jovens. 

Para galáxias espirais em interação, as órbitas regulares que produzem seus impressionantes braços espirais também são interrompidas. Seja por meio de fusões ou por acidentes, o resultado é uma galáxia quase desprovida de gás, com estrelas envelhecidas orbitando em círculos descoordenados: uma galáxia elíptica. 

É muito provável que um destino semelhante aconteça com MCG+05-31-045. À medida que a galáxia espiral menor é dilacerada e integrada à galáxia maior, muitas estrelas novas se formarão, e as quentes e azuis queimarão rapidamente, deixando estrelas mais frias e vermelhas para trás em uma galáxia elíptica muito parecida com as outras no aglomerado Coma. Mas esse processo não estará completo por muitos milhões de anos, até lá, a Rainha Berenice II terá que sofrer com os nós em seu cabelo!

Fonte: ESA

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Encontrada a galáxia de disco rotativo mais distante

Foi descoberta a galáxia mais distante parecida à Via Láctea alguma vez observada.

© ALMA (galáxia REBELS-25)

Denominada REBELS-25, esta galáxia de disco parece tão ordenada como as galáxias atuais, no entanto, estamos a observá-la quando o Universo tinha apenas 700 milhões de anos. Este fato é tão mais surpreendente quanto, de acordo com a nossa compreensão atual da formação galáctica, se esperava que estas primeiras galáxias do Universo primordial se apresentassem bastante caóticas.

A estrutura e rotação de REBELS-25 foram observadas com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), do qual o Observatório Europeu do Sul (ESO) é um parceiro. As galáxias que observamos no Universo atual percorreram um longo caminho desde os objetos aglomerados e caóticos que os astrônomos observam tipicamente no Universo primordial.

As galáxias primitivas fundem-se umas com as outras, evoluindo posteriormente para formas mais suaves a um ritmo muito lento. As teorias atuais sugerem que, para que uma galáxia se apresente tão ordenada como a nossa Via Láctea, ou seja, um disco em rotação com estruturas organizadas como braços em espiral, deverá ter evoluído durante bilhões de anos. Contudo, a detecção de REBELS-25 desafia esta escala de tempo.

Neste estudo, os astrônomos descobriram que REBELS-25 é a mais distante galáxia de disco com forte rotação jamais descoberta. A luz que nos chega desta galáxia foi emitida quando o Universo tinha apenas 700 milhões de anos, uns meros 5% da sua idade atual (13,8 bilhões), o que faz com que a rotação ordenada de REBELS-25 seja deveras inesperada.

REBELS-25 foi inicialmente detectada pela mesma equipe em observações anteriores também realizadas com o ALMA, que está localizado no deserto chileno do Atacama. No momento foi uma descoberta excitante, que mostrava indícios de rotação, no entanto a resolução dos dados não era suficientemente alta para ser confirmada. Para discernir corretamente a estrutura e o movimento da galáxia, foram realizadas observações de seguimento, também com o ALMA, com uma resolução mais elevada, conseguindo assim confirmar a sua natureza recorde.

Surpreendentemente, os dados também sugerem características mais desenvolvidas, semelhantes às da Via Láctea, como uma barra central alongada e até braços em espiral, embora sejam necessárias mais observações para confirmar este fato. Observações futuras de REBELS-25, juntamente com mais descobertas de outras galáxias primordiais com rotação, poderão transformar a nossa compreensão da formação das primeiras galáxias e da evolução do Universo.

Este trabalho foi aceito para publicação no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: ESO

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Nova imagem melhorada da galáxia IC 1954

A galáxia espiral IC 1954, localizada a 45 milhões de anos-luz da Terra na constelação Horologium, é a estrela nesta imagem telescópio espacial Hubble.

© Hubble (IC 1954)

Ela ostenta uma barra brilhante em seu núcleo, dois braços espirais principais majestosamente sinuosos e nuvens de poeira escura sobre ela. Uma imagem desta galáxia foi lançada anteriormente em 2021; a imagem atual é totalmente nova e agora inclui dados H-alfa.

A cobertura aprimorada de nebulosas formadoras de estrelas, que são emissoras proeminentes da luz vermelha H-alfa, pode ser vista nas numerosas manchas brilhantes e rosadas no disco da galáxia. Curiosamente, alguns astrônomos postulam que a "barra" da galáxia é, na verdade, uma região energética de formação de estrelas que por acaso fica sobre o centro galáctico. 

Os novos dados apresentados nesta imagem vêm de um programa para estender a cooperação entre vários observatórios: o telescópio espacial Hubble, o telescópio espacial infravermelho James Webb e o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, um radiotelescópio terrestre. 

Ao pesquisar a IC 1954 e mais de cinquenta outras galáxias próximas em luz de rádio, infravermelha, óptica e ultravioleta, os astrônomos pretendem rastrear e reconstruir completamente o caminho que a matéria percorre através das estrelas e do gás e poeira interestelar em cada galáxia.

As capacidades de observação do Hubble formam uma parte importante desta pesquisa: ele pode captar estrelas mais jovens e aglomerados de estrelas quando eles são mais brilhantes em comprimentos de onda ultravioleta e ópticos, e seu filtro H-alfa rastreia efetivamente a emissão de nebulosas. O conjunto de dados resultante formará um tesouro de pesquisas sobre a evolução de estrelas em galáxias, que o Webb desenvolverá à medida que continua suas operações científicas no futuro.

Fonte: ESA

sábado, 21 de setembro de 2024

A galáxia M100 e o planeta anão Ceres

A perspectiva conta muito na vida, especialmente ao observar o espaço profundo.

© Damon Mitchell Scotting (M100 e Ceres)

Nesta rara e maravilhosa ocasião, o astrofotógrafo Damon Mitchell Scotting conseguiu captar o planeta anão Ceres, mais de um bilhão de vezes menor que sua contraparte galáctica, transitando além dos braços espirais da galáxia. 

A sequência de imagens, com exposições longas num período de oito horas, foi obtida no Observatório El Sauce, Río Hurtado, Chile, nos dias 22, 27 e 31 de março de 2023, 12 de janeiro e 2 de março de 2024. 

Esta fotografia foi altamente recomendada na categoria Planetas, Cometas e Asteroides na premiação do Astronomy Photographer of the Year Planets do Royal Museums Greenwich. 

Fonte: Royal Observatory

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Buraco negro dizimando sua galáxia

Uma equipe de cientistas, com ajuda do poderoso telescópio espacial James Webb (JWST), testemunhou uma cena cósmica digna de um filme de ação: um buraco negro supermassivo literalmente asfixiando sua própria galáxia.

© Francesco D'Eugenio (galáxia GS-10578)

A galáxia GS-10578, localizada a impressionantes 11,5 bilhões de anos-luz, está sendo privada de gás, o combustível essencial para formar novas estrelas. E tudo por causa de ventos cósmicos impressionantes, viajando a uma velocidade de 5,2 milhões de quilômetros por hora. 

Esse processo é chamado de “morte galáctica por inanição”, ocorre quando o buraco negro no centro da galáxia expulsa o gás necessário para a formação de estrelas, condenando-a a uma existência estéril e quiescente.

Segundo o estudo, isso acontece com algumas galáxias quando suas reservas de gás e poeira se esgotam ou são forçadas a sair. Parece que esse buraco negro decidiu colocar sua galáxia em uma dieta forçada. 

Liderada por cientistas da Universidade de Cambridge, a equipe focou suas observações na galáxia GS-10578, que já recebeu o carinhoso apelido de “Galáxia de Pablo”. O apelido é uma homenagem a um dos cientistas envolvidos, que sugeriu estudá-la mais a fundo.

Embora seja enorme para a época observada, com uma massa 200 bilhões de vezes maior que a do Sol, a galáxia já havia parado de formar estrelas há bilhões de anos. Este “fim precoce” intrigava os cientistas, e o JWST finalmente trouxe as respostas tão aguardadas. As observações revelaram que o buraco negro no centro da galáxia está expelindo gás em quantidade suficiente para impedir o nascimento de novas estrelas. E esses ventos são tão poderosos que o gás é jogado para fora da galáxia sem chance de retorno. Isso acaba com possibilidade de que a galáxia possa retomar sua produção estelar. 

Curiosamente, o gás frio e denso passou despercebido por outros telescópios, pois emite pouca luz. Só o JWST, com sua excelente sensibilidade, foi capaz de caprar esse aspecto galáctico, detectando o fluxo de gás porque ele bloqueia a luz de outras galáxias ao fundo.

Além de trazer novas descobertas, as observações do JWST confirmaram teorias que já sugeriam que buracos negros desempenham o papel de vilões no fim da formação estelar de galáxias. No entanto, esse estudo também trouxe surpresas. Os modelos teóricos anteriores previam que a morte de uma galáxia seria um evento turbulento e caótico, possivelmente desfigurando sua forma. Contudo, as estrelas na Galáxia de Pablo ainda parecem orbitar de maneira organizada, desafiando essas expectativas.

Agora, os pesquisadores pretendem continuar a investigação com o Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array (ALMA), no Chile. Eles esperam descobrir se há gás denso e frio suficiente na galáxia ou se o buraco negro conseguiu dizimar a galáxia por completo.

Fonte: Nature Astronomy

sábado, 7 de setembro de 2024

Galáxia distorcida formando um ponto de interrogação cósmico

Viajemos 7 bilhões de anos para o passado: o auge da formação estelar do Universo está começando a abrandar. Qual terá sido o aspecto da Via Láctea, neste momento?

© STScI (aglomerado de galáxias MACS-J0417.5-1154)

Os astrônomos que utilizam o telescópio espacial James Webb encontraram pistas sob a forma de um ponto de interrogação cósmico, resultado de um alinhamento raro ao longo de anos-luz de espaço.

São conhecidas apenas cerca de quatro ocorrências de configurações semelhantes de lentes gravitacionais no Universo observável, o que torna esta descoberta deslumbrante, uma vez que demonstra o poder do Webb e sugere que talvez agora encontremos mais destas.

Embora esta região tenha sido observada anteriormente com o telescópio espacial Hubble, a galáxia vermelha e poeirenta que forma o intrigante ponto de interrogação só foi visível com o Webb. Isto é devido aos comprimentos de onda da luz que o Hubble detecta ficarem retidos na poeira cósmica, enquanto que os comprimentos de onda mais longos da luz infravermelha conseguem passar e ser detectados pelos instrumentos do Webb. 

Os astrônomos utilizaram ambos os telescópios para observar o aglomerado de galáxias MACS-J0417.5-1154, que atua como uma lupa porque o aglomerado é tão massivo que deforma o tecido do espaço-tempo. No entanto, os mesmos efeitos gravitacionais que ampliam as galáxias também causam distorção, resultando em galáxias que aparecem espalhadas pelo céu em arcos e até aparecem várias vezes. A estas ilusões óticas no espaço chama-se lente gravitacional. 

A galáxia vermelha revelada pelo Webb, juntamente com uma galáxia espiral com a qual está interagindo e que foi anteriormente detectada pelo Hubble, estão sendo ampliadas e distorcidas de uma forma incomum, o que requer um alinhamento particular e raro entre as galáxias distantes, a lente e o observador, algo conhecido como lente gravitacional hiperbólica umbilical. Isto explica as cinco imagens do par de galáxias vistas na imagem do Webb, quatro das quais traçam o topo do ponto de interrogação. O ponto do ponto de interrogação é uma galáxia não relacionada. 

Os resultados mostram que a formação estelar é generalizada em ambas. Os dados espectrais também confirmaram que a galáxia poeirenta recém-descoberta está localizada à mesma distância que a galáxia espiral vista de face, e é provável que estejam começando a interagir. Ambas as galáxias mostram formação estelar ativa em várias regiões compactas, provavelmente resultado da colisão do gás que as constitui. 

As imagens e os espectros do Webb utilizados nesta investigação provêm do levantamento CANUCS (Canadian NIRISS Unbiased Cluster Survey).

O trabalho de pesquisa foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Space Telescope Science Institute

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Escondendo um segredo brilhante

Olhando além de seus longos braços espirais cheios de estrelas e os fios escuros de poeira cruzando-o, seu olhar pode ser atraído pelo ponto brilhante no centro da UGC 3478, a galáxia espiral estrelando esta imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble.

© Hubble (UGC 3478)

Este ponto é o núcleo da galáxia, e de fato há algo especial sobre ele: é um buraco negro gigante em crescimento que é chamado de núcleo galáctico ativo (AGN). 

A UGC 3478, localizada na constelação de Camelopardalis, é conhecida como uma galáxia Seyfert. Este é um tipo de galáxia com um AGN em seu núcleo. Como todas essas "galáxias ativas", o brilho que você vê aqui esconde um buraco negro supermassivo no centro da galáxia. 

Um disco de gás espirala para dentro deste buraco negro, e conforme o material colide e aquece, ele emite radiação muito forte. O espectro desta radiação inclui emissão de raios X duros, que a distingue claramente das estrelas na galáxia. Apesar do forte brilho da região central compacta, ainda podemos ver claramente o disco da galáxia ao redor dela, o que é um fator definidor de uma galáxia Seyfert. 

Muitas galáxias ativas são conhecidas pelos astrônomos a grandes distâncias da Terra, graças ao grande brilho de seus núcleos, destacando-as ao lado de outras galáxias mais fracas. A 128 milhões de anos-luz da Terra, a UGC 3478 é uma vizinha de nós. 

Os dados usados para fazer esta imagem vêm de uma pesquisa do Hubble de AGNs poderosos próximos identificados por sua emissão de raios X de energia relativamente alta, que se espera que possa ajudar os astrônomos a entender como as galáxias interagem com os buracos negros supermassivos em seus centros.

Fonte: ESA

domingo, 28 de julho de 2024

A matéria escura numa colisão entre aglomerado de galáxias

Os astrônomos desvendaram uma colisão confusa entre dois enormes aglomerados de galáxias, na qual as vastas nuvens de matéria escura dos aglomerados se separaram da chamada matéria normal.

© Adam Makarenko (ilustração da colisão entre dois aglomerados de galáxias)

As novas observações são as primeiras a sondar diretamente a dissociação das velocidades da matéria escura e da matéria normal.

Os dois aglomerados contêm cada um milhares de galáxias e estão situados a bilhões de anos-luz da Terra. Ao atravessarem-se um pelo outro, a matéria escura - uma substância invisível que sente a força da gravidade, mas não emite luz - passou à frente da matéria normal. 

Os aglomerados de galáxias estão entre as maiores estruturas do Universo, coladas umas às outras pela força da gravidade. Apenas 15 por cento da massa destes aglomerados é matéria normal, a mesma matéria que constitui os planetas, as estrelas e as pessoas. Desta matéria normal, a grande maioria é gás quente, enquanto o resto são estrelas e planetas. Os restantes 85% da massa do aglomerado corresponde à matéria escura. 

Durante a luta que ocorreu entre os aglomerados, conhecidos coletivamente como MACS J0018.5+1626 (MACS J0018.5), as galáxias individuais saíram praticamente ilesas porque existe muito espaço entre elas. Mas quando as enormes reservas de gás entre as galáxias (a matéria normal) colidiram, o gás tornou-se turbulento e sobreaquecido. Embora toda a matéria, incluindo a matéria normal e a matéria escura, interaja através da gravidade, a matéria normal também interage através do eletromagnetismo, que a torna mais lenta durante uma colisão. Assim, enquanto a matéria normal ficou atolada, as "poças" de matéria escura dentro de cada aglomerado navegaram em frente. 

A descoberta foi feita utilizando dados do CSO (Caltech Submillimeter Observatory, recentemente retirado do seu local em Maunakea, no Havaí, que será transferido para o Chile), do observatório W.M. Keck em Maunakea, do observatório de raios X Chandra, do telescópio espacial Hubble, do observatório espacial Herschel, do observatório Planck e do ASTE (Atacama Submillimeter Telescope Experiment) no Chile. 

Algumas das observações foram efetuadas há décadas, enquanto a análise completa utilizando todos os conjuntos de dados teve lugar nos últimos dois anos. Esta dissociação entre a matéria escura e a matéria normal já foi observada anteriormente, sendo a mais famosa a do Aglomerado Bullet. Nesta colisão, o gás quente pode ser visto claramente ficando atrás da matéria escura, depois dos dois aglomerados de galáxias se terem atravessado um ao outro. 

A situação que ocorreu em MACS J0018.5 é semelhante, mas a orientação da fusão girou cerca de 90 graus em relação à do Aglomerado Bullet, ou seja, um dos aglomerados massivos de MACS J0018.5 está voando quase direito em direção à Terra, enquanto o outro está se afastando.

Para medir a velocidade da matéria normal, ou gás, no aglomerado, os pesquisadores utilizaram um método de observação conhecido como efeito cinético Sunyaev-Zel'dovich (ou efeito SZ). Os astrônomos fizeram a primeira detecção observacional do efeito cinético SZ num objeto cósmico individual, um aglomerado de galáxias chamado MACS J0717, em 2013, utilizando dados do CSO (as primeiras observações do efeito SZ feitas de MACS J0018.5 datam de 2006). 

O efeito cinético SZ ocorre quando os fótons do início do Universo, a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, se dispersam nos elétrons do gás quente a caminho da Terra. Os fótons sofrem um desvio, o chamado efeito Doppler, devido aos movimentos dos elétrons nas nuvens de gás ao longo da nossa linha de visão. Medindo a mudança de brilho da radiação cósmica de fundo em micro-ondas devido a este efeito, foi possível determinar a velocidade das nuvens de gás dentro dos aglomerados de galáxias. 

Em 2019, os pesquisadores tinham efetuado estas medições do efeito cinético SZ em vários aglomerados de galáxias, o que lhes indicava a velocidade do gás, ou matéria normal. Também utilizaram o Keck para conhecer a velocidade das galáxias no aglomerado, o que indicou, por aproximação, a velocidade da matéria escura (porque a matéria escura e as galáxias se comportam de forma semelhante durante a colisão). 

A equipe também usou os dados do Hubble para mapear a matéria escura usando um método conhecido como lente gravitacional. Adicionalmente, John ZuHone, do Centro de Astrofísica do Harvard & Smithsonian, ajudou a simular a destruição do aglomerado. Estas simulações foram usadas em combinação com os dados dos vários telescópios para determinar a geometria e a fase evolutiva do encontro entre os aglomerados

Os cientistas descobriram que, antes de colidirem, os aglomerados estavam se movendo um para o outro a cerca de 3.000 quilômetros/segundo, o que equivale a cerca de um por cento da velocidade da luz. 

Com uma imagem mais completa do que estava se passando, os pesquisadores conseguiram perceber porque é que a matéria escura e a matéria normal pareciam estar viajando em direções opostas. Embora seja difícil de visualizar, a orientação da colisão, juntamente com o fato da matéria escura e da matéria normal se terem separado uma da outra, explica as estranhas medições de velocidade. 

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal

Fonte: California Institute of Technology

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Aproximando de um anel surpreendente

Esta imagem mostra a galáxia distante PJ0116-24, uma galáxia infravermelha hiperluminosa.

© ALMA / VLT (galáxia PJ0116-24)

Estas galáxias são extremamente brilhantes, iluminadas pela formação estelar extremamente rápida que ocorre no seu interior. Mas o que é que provoca este processo? 

Estudos anteriores sugeriram que estas galáxias extremas resultam de fusões de galáxias. Pensa-se que estas colisões entre galáxias criam regiões de gás denso nas quais se desencadeia uma formação estelar muito rápida. No entanto, também galáxias isoladas se podem transformar em galáxias infravermelhas hiperluminosas apenas por processos internos, se o gás utilizado na formação estelar for rapidamente canalizado para o centro da galáxia. 

Num novo estudo liderado por Daizhong Liu (Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, Alemanha), combinaram-se observações obtidas pelo Very Large Telescope (VLT) do ESO e pelo o Atacama Large Millimetre/submillimetre Array (ALMA) com o intuito de estudar os movimentos do gás no interior de PJ0116-24. 

O ALMA detecta o gás frio (em azul), enquanto o VLT, com o seu novo instrumento ERIS (Enhanced Resolution Imager and Spectrograph), detecta o gás quente (em vermelho). Graças a estas observações detalhadas, os astrônomos descobriram que o gás nesta galáxia extrema está rodando de modo organizado, em vez da maneira caótica que se esperava após uma colisão galáctica, um resultado surpreendente!

Este fato demonstra de forma convincente que nem sempre são necessárias fusões para que uma galáxia se torne uma galáxia infravermelha hiperluminosa. A PJ0116-24 está tão longe que a sua luz demorou cerca de 10 bilhões de anos a chegar até nós. Felizmente, uma galáxia situada em primeiro plano (que não vemos aqui) atuou como uma lente gravitacional, curvando e ampliando a luz emitida pela PJ0116-24, que se encontra por detrás, e formando o anel de Einstein que aqui observamos. Este tipo de alinhamento cósmico bem preciso permite realizar zoom em objetos muito distantes e observá-los com um nível de detalhe que, de outra forma, seria muito difícil de obter.

Fonte: ESO

Montando as maiores galáxias

A imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble é a galáxia anã irregular NGC 5238, localizada a 14,5 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Canes Venatici.

© Hubble (NGC 5238)

A sua aparência nada excitante, semelhante a uma bolha, assemelhando-se mais a um enorme aglomerado estelar do que a uma galáxia, desmente uma estrutura complicada que tem sido objeto de muita investigação por parte dos astrônomos. 

Aqui, o telescópio espacial Hubble é capaz de identificar as inúmeras estrelas da galáxia, bem como os aglomerados globulares associados, os pontos brilhantes dentro e ao redor da galáxia que estão repletos de ainda mais estrelas. 

Acredita-se que a galáxia NGC 5238 tenha surgida recentemente, ou seja, não mais do que um bilhão de anos atrás! Ela teve um encontro próximo com outra galáxia. A prova disto são as distorções de maré na forma da NGC 5238, o tipo produzido por duas galáxias que se puxam uma contra a outra à medida que interagem. Não há nenhuma galáxia próxima que possa ter causado esta perturbação, então a hipótese é que seja uma galáxia satélite menor que foi devorada pela NGC 5238. 

Vestígios da antiga galáxia podem ser encontrados examinando de perto a população de estrelas na NGC 5238, uma tarefa para a qual o telescópio espacial Hubble é a melhor ferramenta. Dois sinais reveladores seriam grupos de estrelas com propriedades que parecem deslocadas em comparação com a maioria das outras estrelas da galáxia, indicando que elas foram originalmente formadas em uma galáxia separada, ou estrelas que parecem ter se formado abruptamente em torno do mesmo tempo, o que ocorreria durante uma fusão galáctica. 

Os dados usados ​​para fazer esta imagem serão utilizados para testar essas previsões. Apesar do seu pequeno tamanho e aparência normal, não é incomum que galáxias anãs como a NGC 5238 conduzam a nossa compreensão da formação e evolução das galáxias. Uma teoria principal da evolução das galáxias é que as galáxias se formaram "de baixo para cima" de forma hierárquica: aglomerados de estrelas e pequenas galáxias foram os primeiros a se formar a partir de gás e matéria escura, e gradualmente foram reunidos pela gravidade em aglomerados de galáxias e superaglomerados, explicando a forma das maiores estruturas do Universo hoje. Uma galáxia anã irregular como NGC 5238 fundindo-se com uma companheira ainda menor é exatamente o tipo de evento que pode ter iniciado este processo de montagem de galáxias no Universo primordial. Acontece que esta pequena galáxia pode servir como um teste para algumas das previsões mais fundamentais da astrofísica!

 Fonte: ESA