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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O impacto do asteroide 2024 YR4 é excluído quase por completo

Novas observações do asteroide 2024 YR4 efetuadas com o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) e com outras infraestruturas do mundo inteiro excluíram quase por completo a possibilidade de um impacto deste asteroide com o nosso planeta.

© ESO / VLT (asteroide 2024 YR4)

O 2024 YR4 tem sido monitorado de perto nos últimos meses, uma vez que a sua probabilidade de colidir com a Terra em 2032 aumentou para cerca de 3%, o que corresponde à maior probabilidade de impacto alguma vez calculada para um asteroide de grandes dimensões. Após estas últimas observações, a probabilidade de impacto desceu para 0,28%. Com isso, o objeto celeste passou a ser classificado na categoria 1 da Escala de Torino, indicando baixo risco.

A Escala de Torino é uma ferramenta usada para avaliar o risco de impacto de pequenos corpos na Terra, variando de 0 a 10, onde 0 indica nenhuma chance de colisão ou impacto insignificante, e 10 representa uma colisão certa, com potencial para causar uma catástrofe global.

O asteroide 2024 YR4, que se estima ter cerca de 40 a 90 metros de diâmetro, foi descoberto no final de Dezembro do ano passado numa órbita que o poderia fazer colidir com a Terra a 22 de Dezembro de 2032. Devido ao seu tamanho e probabilidade de impacto, o asteroide subiu rapidamente para o topo da lista de risco da Agência Espacial Europeia (ESA), um catálogo de todas as rochas espaciais que têm qualquer hipótese de impactar com a Terra.

Um asteroide na faixa menor (40 a 60 metros) poderia causar uma explosão atmosférica, quebrando janelas e causando pequenos danos estruturais em áreas urbanas. Já um asteroide maior (até 90 metros) poderia causar danos mais graves, como o colapso de estruturas residenciais e danos em áreas maiores. Se o impacto ocorrer sobre o oceano, é improvável que cause um tsunami significativo. A última vez que um asteroide com mais de 30 metros de tamanho representou um risco tão significativo foi o Apophis, em 2004, quando teve uma chance de 2,7% de atingir a Terra em 2029. Mas a possibilidade foi descartada posteriormente por observações adicionais.

Em meados de Janeiro, e com o auxílio do VLT do ESO, os astrônomos observaram o asteroide 2024 YR4 e obtiveram dados cruciais para calcular com maior precisão a sua órbita. Em combinação com dados de outros observatórios, as medições muito precisas do VLT melhoraram o nosso conhecimento da órbita do asteroide, levando a uma probabilidade de impacto superior a 1%, um limiar fundamental para desencadear a mitigação de desastres.

Foram feitas mais observações e a Rede Internacional de Alerta de Asteroides emitiu uma notificação de potencial impacto do asteroide, alertando os grupos de defesa planetária, incluindo o Grupo Consultivo de Planejamento de Missões Espaciais, para o possível impacto. Com vários telescópios em todo o mundo observando o asteroide e com a modelagem da sua órbita, a probabilidade de impacto subiu para cerca de 3% em 18 de Fevereiro, a maior probabilidade de impacto alguma vez registada para um asteroide com mais de 30 metros.

No entanto, logo no dia seguinte, novas observações efetuadas com o VLT do ESO reduziram o risco de impacto para metade. Esta subida e descida da probabilidade de impacto do asteroide segue um padrão que é esperado e compreendido. Para saberem onde estará o asteroide em 2032, os astrônomos extrapolam a partir da pequena parte da órbita medida até agora.

As novas observações do VLT, juntamente com dados de outros observatórios, permitiram aos astrônomos restringir a órbita o suficiente para excluir a possibilidade de um impacto com a Terra em 2032. No momento, a probabilidade de impacto comunicada pelo Centro de Coordenação de Objetos Próximos da Terra da ESA é de cerca de 0,002% e o asteroide já não está no topo da lista de risco da ESA.

À medida que o 2024 YR4 se afasta da Terra, torna-se cada vez mais tênue e difícil de observar com todos os telescópios, exceto os maiores. O VLT do ESO tem sido fundamental nas observações deste asteroide, devido ao tamanho do seu espelho e à sua grande sensibilidade, bem como ao excelente céu escuro do Observatório do Paranal no Chile, onde o telescópio está localizado. Isto torna-o ideal para seguir objetos tênues como o 2024 YR4 e outros asteroides potencialmente perigosos.

Infelizmente, os céus escuros e límpidos do Paranal, que tornaram possíveis estas medições cruciais, estão atualmente ameaçados pelo megaprojeto industrial INNA da AES Andes, uma subsidiária da empresa americana de energia AES Corporation. O projeto poderá cobrir uma área semelhante à de uma pequena cidade e localizar-se, no ponto mais próximo, a cerca de 11 km do VLT. Devido à sua dimensão e proximidade, o INNA teria efeitos devastadores na qualidade do céu do Paranal, especialmente devido à poluição luminosa das suas instalações industriais.

Com um céu mais brilhante, telescópios como o VLT perderão a sua capacidade de detectar alguns dos alvos cósmicos mais tênues, o que faria uma enorme diferença na capacidade de prever um impacto e preparar medidas de mitigação para proteger a Terra.

No Brasil, o Observatório Nacional (ON) lidera as pesquisas nesta área com o Projeto IMPACTON (Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteroides nas Cercanias da Terra no Observatório Nacional). O projeto foi criado pelo grupo de Ciências Planetárias com o intuito de inserir o Brasil nas pesquisas científicas relacionadas aos pequenos corpos do Sistema Solar. Para isto, foi construído o Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), localizado em Itacuruba, Pernambuco, que conta com um telescópio com espelho de um metro de diâmetro, o segundo maior instalado em solo brasileiro.

Fonte: ON e ESO

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Um híbrido único entre asteroide e cometa

Embora o nosso Sistema Solar tenha bilhões de anos, só recentemente  conhecemos melhor um dos seus habitantes mais dinâmicos e cativantes, conhecido como (2060) Quíron.

© W. G. Sierra (ilustração do centauro ativo Quíron)

Quíron pertence à classe de objetos chamada "Centauros". Os centauros são objetos espaciais que orbitam o Sol entre Júpiter e Netuno. São semelhantes à criatura mitológica que lhes dá o nome, na medida em que são híbridos, possuindo características tanto de asteroides como de cometas. 

Utilizando o telescópio espacial James Webb, cientistas da UCF (University of Central Florida) lideraram recentemente uma equipe que descobriu, pela primeira vez, que Quíron tem uma química de superfície diferente da dos outros centauros. A sua superfície tem gelo de dióxido de carbono e de monóxido de carbono, bem como dióxido de carbono e metano na sua coma (cabeleira), o invólucro de poeira e gás que o rodeia. 

As observações estão a criando conhecimentos fundamentais para compreender a formação do nosso Sistema Solar, uma vez que estes objetos permaneceram praticamente inalterados desde a formação do Sistema Solar.  Uma vez que Quíron possui características de asteroide e de cometa, é um bom local para estudar muitos processos que podem ajudar a compreendê-los. 

 O que é único acerca de Quíron é o fato de ser possível observar tanto a superfície, onde se encontra a maior parte dos gelos, como a coma, onde estão os gases que têm origem na superfície ou logo abaixo dela. Os objetos transnetunianos não têm este tipo de atividade porque estão muito longe e são muito frios. Os asteroides não têm este tipo de atividade porque não têm gelo. Os cometas, por outro lado, mostram atividade como os centauros, mas são normalmente observados mais perto do Sol e as suas comas são tão espessas que complicam a interpretação das observações dos gelos à superfície. 

Descobrir quais os gases que fazem parte da coma e as suas diferentes relações com os gelos à superfície ajuda-nos a conhecer as propriedades físicas e químicas, tais como a espessura e a porosidade da camada de gelo, a sua composição e a forma como a irradiação a afeta. Os astrônomos analisaram o gás metano da coma e determinaram que o fluxo detectado era consistente com a sua origem numa área de superfície que estava exposta ao maior aquecimento do Sol. 

Quíron, descoberto pela primeira vez em 1977, está muito melhor caracterizado do que a maioria dos centauros. Ele é originário da região dos objetos transnetunianos e tem viajado em torno do Sistema Solar desde a sua formação. A informação recentemente analisada ajuda os cientistas a compreender melhor o processo termofísico que está decorrendo em Quíron e que produz gás metano. Tem períodos em que se comporta como um cometa, tem anéis de material ao seu redor e potencialmente um campo de detritos de pequenas poeiras ou material rochoso orbitando à sua volta. Assim, surgem muitas questões acerca das propriedades de Quíron que permitem estes comportamentos únicos. O estudo também destacou a presença de subprodutos irradiados de metano, monóxido de carbono e dióxido de carbono, que exigirão mais análise. 

As órbitas de Quíron e de muitos outros objetos não planetários de grandes dimensões sofrem ocasionalmente encontros próximos com um dos planetas gigantes, onde a atração gravitacional do planeta altera a órbita do objeto menor, levando-o por todo o Sistema Solar e expondo-o a muitos ambientes diferentes. Sabe-se que foi ejetado da população de objetos transnetunianos e só agora está a transitar pela região dos planetas gigantes, onde não permanecerá por muito tempo. Após cerca de 1 milhão de anos, centauros como Quíron são tipicamente ejetados da região dos planetas gigantes, onde podem terminar as suas vidas como cometas da família de Júpiter ou podem regressar à região dos objetos transnetunianos.

Nota-se a multiplicidade de gelos de Quíron com diferentes volatilidades e os seus processos de formação. Alguns destes gelos, como o metano, o dióxido de carbono e a água, podem ser componentes primordiais de Quíron, herdados da nebulosa pré-solar. Outros, como o acetileno, o propano, o etano e o óxido de carbono, podem ter-se formado à superfície devido a processos de redução e oxidação.

Quíron vai aproximar-se da Terra onde propiciará melhores leituras sobre as quantidades e a natureza dos gelos, silicatos e material orgânico, possibilitando compreender melhor como as variações sazonais da insolação e os diferentes padrões de iluminação podem afetar o seu comportamento e o seu reservatório de gelo.

Os resultados foram recentemente publicados no periódico Astronomy & Astrophysics.

Fonte: University of Central Florida

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Descobertos os menores asteroides no cinturão principal

Estima-se que o asteroide que levou à extinção dos dinossauros tinha cerca de 10 quilômetros de diâmetro.

© MIT (pequenos asteroides do cinturão principal)

A imagem mostra o telescópio espacial James Webb revelando, no infravermelho, uma população de pequenos asteroides do cinturão principal.

Prevê-se que um objeto tão massivo atinja a Terra raramente, uma vez em cada 100 milhões a 500 milhões de anos. Em contraste, asteroides muito menores, do tamanho de um carro, podem atingir a Terra com maior frequência, de poucos em poucos anos. 

Estes asteroides decamétricos, com apenas dezenas de metros de diâmetro, têm maior probabilidade de escapar do cinturão principal de asteroides e migrar para se tornarem objetos próximos da Terra. Em caso de impacto, estas pequenas mas poderosas rochas espaciais podem provocar ondas de choque em regiões inteiras, como foi o caso do impacto de 1908 em Tunguska, na Sibéria, e do asteroide de 2013 que se fragmentou no céu sobre Chelyabinsk, nos Urais. 

A possibilidade de observar asteroides decamétricos do cinturão principal forneceria uma janela para a origem dos meteoritos. Agora, uma equipe internacional liderada por físicos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) descobriu uma forma de detectar asteroides decamétricos no cinturão principal, um campo de destroços entre Marte e Júpiter onde orbitam milhões de asteroides. 

Até agora, os asteroides menores que os cientistas conseguiam distinguir tinham cerca de um quilômetro de diâmetro. Com a nova abordagem, os cientistas podem agora detectar asteroides com apenas 10 metros de diâmetro. Foram detectados mais de 100 novos asteroides decamétricos no cinturão principal. 

O novo estudo utilizou dados do observatório mais poderoso do mundo, o telescópio espacial James Webb da NASA, que é particularmente sensível ao infravermelho em vez da luz visível. Acontece que os asteroides que orbitam no cinturão principal são muito mais brilhantes nos comprimentos de onda infravermelhos do que nos comprimentos de onda visíveis. Após o processamento das imagens, os pesquisadores conseguiram detectar oito asteroides conhecidos no cinturão principal. Depois, foram mais longe e descobriram 138 novos asteroides nesta região, todos com dezenas de metros de diâmetro, os menores asteroides do cinturão principal detectados até à data. Suspeita-se que alguns asteroides estão a caminho de se tornarem objetos próximos da Terra, enquanto um é provavelmente um troiano, ou seja, um asteroide que segue Júpiter.

Um artigo foi publicado na revista Nature.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

sábado, 14 de dezembro de 2024

Um cinturão de asteroides inesperadamente lotado

Astrônomos descobriram uma população inesperadamente grande de pequenos asteroides do cinturão principal graças a uma nova análise de imagens do telescópio espacial James Webb.

© NASA / JPL-Caltech (ilustração do cinturão de asteroides)

A descoberta pode mudar os cálculos da taxa de impacto na Terra de tais corpos, que variam do tamanho de uma casa ao tamanho de um estádio. Esses são de longe os menores objetos já fotografados tão longe. Artem Burdanov, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e colegas aplicaram um método de deslocamento e empilhamento computacionalmente intensivo às imagens de arquivo do Webb. A partir dos detectores infravermelhos sensíveis do telescópio, a equipe foi capaz de determinar com precisão os tamanhos de pequenos objetos, variando de cerca de 10 a 500 metros de diâmetro. 

Asteroides maiores do cinturão principal, cujas órbitas estão entre as de Marte e Júpiter, tendem a permanecer em órbitas relativamente estáveis. No entanto, as interações gravitacionais perturbam com mais frequência os menores, que podem entrar no Sistema Solar interno para se tornarem potenciais impactadores. O alto número de pequenos objetos agora encontrados no cinturão principal, pelo menos cinco vezes mais do que o esperado, pode afetar os cálculos da frequência de tais impactos. 

A abordagem de processamento de deslocamento e empilhamento é usada por astrônomos profissionais e amadores para fornecer imagens de objetos tênues e em movimento rápido, como asteroides e cometas. Neste caso, os astrônomos usaram esse método com asteroides. 

Normalmente, a ideia é mover o telescópio precisamente na direção e na taxa de movimento de um objeto com uma órbita conhecida. Cada quadro mantém o alvo no centro, enquanto as estrelas de fundo se movem de quadro para quadro. Assim, mesmo que uma imagem individual não capture o objeto, dezenas ou mesmo centenas de quadros podem ser adicionados juntos, permitindo que o objeto emerja do ruído de fundo aleatório que muda de quadro para quadro. Mas o processo geralmente depende do conhecimento da órbita. 

E se você não souber? É aí que entra o aproveitamento de muito poder de processamento. A equipe minerou um arquivo de imagens do Webb que foram coletadas para um propósito diferente: estudar os planetas ao redor da estrela próxima TRAPPIST-1. Como essas imagens envolviam olhar para o mesmo pequeno pedaço do céu por longos períodos de até 8 horas, elas também se mostraram úteis para encontrar objetos em movimento, como asteroides. 

Para descobrir asteroides em órbitas desconhecidas, foi usado essencialmente um método de força bruta, mudando em todas as direções possíveis e faixas de velocidade razoáveis para potenciais alvos em movimento, e então empilhando essas imagens. A busca cega inicial produziu mais de 1.000 candidatos, onde foram destacados 138 asteroides até então desconhecidos, bem como oito conhecidos.

O Webb é particularmente bom em encontrar asteroides, porque eles são muito mais brilhantes em comprimentos de onda infravermelhos. Os astrônomos restringiram seus diâmetros a 10 a 20%, enquanto estimativas de tamanho baseadas em observações de luz visível podem variar em mais de uma ordem de magnitude. Isso ocorre porque a luz visível vem do reflexo da luz solar de um asteroide e, portanto, de quão escura é sua superfície, uma qualidade que pode variar muito de objeto para objeto. A luz infravermelha, por outro lado, resulta principalmente da emissão térmica, que não mudará muito para um determinado objeto. Medições infravermelhas também poderiam fornecer o formato dos objetos, já que quaisquer variações no brilho seriam devidas à forma, e não a variações na refletividade da superfície. No entanto, as observações iniciais examinadas foram muito curtas para fornecer tais informações.

Encontrar tantos asteroides pequenos por acaso, a partir de um conjunto de observações de uma estrela tiradas para um propósito diferente, abre a perspectiva de minerar muito mais de outros conjuntos de dados semelhantes.

Um artigo foi publicado na revista Nature.

Fonte: Sky & Telescope

sábado, 21 de setembro de 2024

A Terra poderá ter tido anéis há 466 milhões de anos

Numa descoberta que desafia a nossa compreensão da antiga história da Terra, foram encontradas evidências que sugerem que ela pode ter tido um sistema de anéis.

© Oliver Hull (ilustração da Terra com um sistema de anéis)

Este sistema de anéis, que se formou há cerca de 466 milhões de anos, no início de um intenso período de bombardeamento de meteoritos, conhecido como o pico de impacto do Ordoviciano.

Esta hipótese surpreendente resulta de reconstruções de placas tectônicas para o período Ordoviciano, que registram as posições de 21 crateras de impacto de asteroides. Todas estas crateras estão localizadas até 30 graus do equador, apesar de mais de 70% da crosta continental da Terra se encontrar fora desta região, uma anomalia que as teorias convencionais não conseguem explicar. 

Os pesquisadores pensam que este padrão de impacto localizado foi produzido depois de um grande asteroide ter tido um encontro próximo com a Terra. Quando o asteroide passou dentro do limite de Roche da Terra, partiu-se devido às forças de maré, formando um anel de detritos em torno do planeta, semelhante aos anéis que se veem atualmente em volta de Saturno e de outros gigantes gasosos.

Ao longo de milhões de anos, o material deste anel caiu gradualmente na Terra, criando o pico de impactos de meteoritos observado no registo geológico, e também é observado que as camadas de rochas sedimentares deste período contêm quantidades extraordinárias de detritos de meteoritos. O que torna esta descoberta ainda mais intrigante são as potenciais implicações climáticas de um tal sistema de anéis. 

Os pesquisadores especulam que o anel poderá ter projetado uma sombra sobre a Terra, bloqueando a luz solar e contribuindo para um evento de arrefecimento global significativo, conhecido como o Período Glaciar Hirnantiano. Este período, que ocorreu perto do final do Ordoviciano, é reconhecido como um dos mais frios dos últimos 500 milhões de anos da história da Terra.

Normalmente, os asteroides atingem a Terra em locais aleatórios, onde são vistas crateras de impacto distribuídas uniformemente na Lua e em Marte, por exemplo. Para investigar se a distribuição das crateras de impacto do Ordoviciano não é aleatória e está mais próxima do equador, os pesquisadores calcularam a área da superfície continental capaz de preservar crateras desta época. Concentraram-se em crátons estáveis, não perturbados, com rochas mais antigas do que o período Ordoviciano médio, excluindo as áreas enterradas sob sedimentos ou gelo, as regiões erodidas e as afetadas pela atividade tectônica. 

Utilizando uma abordagem GIS (Geographic Information System), foram identificadas regiões geologicamente adequadas em diferentes continentes. Regiões como a Austrália Ocidental, África, o Cráton Norte-Americano e pequenas partes da Europa foram consideradas adequadas para a preservação de tais crateras. 

Apenas 30% da área terrestre adequada foi determinada como estando perto do equador, mas todas as crateras de impacto deste período foram encontradas nesta região. A probabilidade de isto acontecer é como atirar uma moeda de três lados (se tal coisa existisse) e obter coroa 21 vezes. 

As implicações desta descoberta vão para além da geologia, levando os cientistas a reconsiderar o impacto mais alargado dos eventos celestes na história evolutiva da Terra. Também levanta novas questões sobre a possibilidade de existirem outros antigos sistemas de anéis que possam ter influenciado o desenvolvimento da vida na Terra. 

Poderão anéis semelhantes ter existido em outros pontos da história do nosso planeta, afetando tudo, desde o clima à distribuição da vida? Esta exploração abre uma nova fronteira no estudo do passado da Terra, fornecendo novas informações sobre as interações dinâmicas entre a Terra e o cosmos mais vasto.

Um artigo foi publicado no periódico Earth and Planetary Science Letters

Fonte: Monash University

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Nova 'mini-lua' orbitará a Terra

A Terra está prestes a ganhar um novo companheiro cósmico, um pequeno asteroide que entrará na órbita do nosso planeta por cerca de dois meses.

© Cosmo Novas (asteroide 2024 PT5)

Este fenômeno, que começará em 29 de setembro, destaca a importância do monitoramento contínuo de objetos próximos à Terra (NEOs) e oferece uma oportunidade única para a comunidade científica estudar as interações gravitacionais entre a Terra e pequenos corpos celestes. 

O asteroide, agora denominado 2024 PT5, foi detectado pela primeira vez em 7 de agosto pelo sistema ATLAS (Asteroid Terrestrial-Impact Last Alert System) da NASA. Este sistema é projetado para identificar e rastrear asteroides que possam representar uma ameaça de impacto para a Terra. 

Com um diâmetro de aproximadamente 10 metros, o 2024 PT5 foi rapidamente identificado e sua trajetória começou a ser monitorada. Os astrônomos que observaram o 2024 PT5 determinaram que ele entrará na órbita da Terra em 29 de setembro e permanecerá até 25 de novembro. Durante esse período, o asteroide fará uma única órbita ao redor do nosso planeta antes de seguir seu caminho pelo Sistema Solar. 

A detecção precoce e o acompanhamento contínuo deste objeto celeste foram possíveis graças aos avanços tecnológicos em sistemas de alerta e monitoramento, como o ATLAS, que desempenham um papel crucial na proteção da Terra contra possíveis impactos. Simulações da trajetória do asteroide mostram que ele seguirá um caminho em forma de ferradura, típico de objetos que se aproximam da Terra a uma velocidade relativa baixa. Este comportamento é semelhante ao de outro asteroide, o 2022 NX1, que também se tornou uma 'mini-lua' da Terra por um breve período em 2022. 

No entanto, há um debate na comunidade científica sobre se o 2024 PT5 pode ser classificado como uma verdadeira ‘mini-lua’, já que o objeto não completará uma revolução completa no sistema Terra-Lua. 

O estudo da trajetória do 2024 PT5 também permitiu aos pesquisadores rastrear sua origem. Eles concluíram que ele provavelmente se originou no cinturão de asteroides Arjuna, um grupo de asteroides com órbitas ao redor do Sol semelhantes à da Terra. O cinturão de asteroides Arjuna é conhecido por conter objetos que possuem órbitas quase co-orbitais com a Terra, o que facilita a captura temporária desses corpos pelo campo gravitacional terrestre. 

No entanto, há uma teoria alternativa proposta por Paul Chodas, diretor do Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, que sugere que o 2024 PT5 pode ser um fragmento ejetado de um impacto na Lua, adicionando uma camada intrigante à sua história. Essa teoria é suportada por análises das características físicas e composição do asteroide, que podem ser comparadas com amostras lunares conhecidas.

Pesquisadores da Universidade Complutense de Madrid realizaram uma análise detalhada da trajetória do 2024 PT5, utilizando dados sobre seu tamanho, velocidade e trajetória. Eles concluíram que o asteroide entrará temporariamente no campo gravitacional da Terra, completando uma órbita ao redor do planeta em 53 dias antes de escapar de volta ao espaço. Este estudo envolveu a aplicação de modelos matemáticos complexos para prever o comportamento orbital do asteroide, levando em consideração as influências gravitacionais de outros corpos celestes próximos, como a Lua e outros asteroides.

Estudar asteroides como o 2024 PT5 é crucial para a compreensão das dinâmicas dos NEOs e suas interações com a Terra. Esses pequenos corpos celestes não apenas oferecem aspectos sobre a formação e evolução do sistema solar, mas também representam potenciais riscos. A detecção e monitoramento desses corpos podem ajudar a desenvolver estratégias de defesa planetária e abrir novas fronteiras para a exploração espacial.

O estudo desses corpos pode fornecer dados valiosos sobre a composição e estrutura de asteroides, informações que são essenciais para futuras missões de mineração de asteroides e exploração de recursos espaciais. Além disso, a compreensão das trajetórias e comportamentos desses objetos pode melhorar nossa capacidade de prever e mitigar possíveis impactos de asteroides na Terra, contribuindo para a segurança planetária.

Fonte: NASA

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Os detritos do impacto no asteroide Dimorphos podem chegar à Terra

Em 2022, a nave espacial DART da NASA fez história e mudou o Sistema Solar para sempre, ao colidir com o asteroide Dimorphos e ao deslocar de forma significativa a sua órbita em torno do maior asteroide Didymos.

© ESA (ilustração da pluma criada pelo impacto no asteroide Dimorphos)

No processo, uma nuvem de detritos foi projetada para o espaço. A mais recente modelação mostra como pequenos meteoroides provenientes destes detritos podem, eventualmente, atingir Marte e a Terra, potencialmente de uma forma observável bastante segura.

No dia 26 de setembro de 2022, a nave espacial DART (Double Asteroid Redirect Test) da NASA, com cerca de meia tonelada, embateu no asteroide Dimorphos, com 151 m de diâmetro, a uma velocidade aproximada de 6,1 km/s, encurtando a sua órbita em torno de Didymos em mais de meia hora, durante a primeira parte de uma colaboração internacional de defesa planetária. 

A nave espacial Hera da ESA será lançada no próximo mês de outubro para alcançar Dimorphos e efetuar uma "investigação da cena do acidente", recolhendo dados sobre a massa, a estrutura e a composição do asteroide, para tornar este método de impacto cinético de defesa planetária numa técnica bem compreendida e repetível.

Uma simulação da ejeção de três milhões de partículas agrupadas em três populações de tamanhos: 10 cm, 0,5 cm e 30 μm, que se deslocam a velocidades de 1 a 1.000 m/s ou a uma velocidade superior de até 2 km/s. Os resultados indicam a possibilidade de material ejetado atingir o campo gravitacional de Marte daqui a 13 anos para velocidades de lançamento da ordem dos 450 m/s, enquanto que detritos mais rápidos lançados a 770 m/s podem atingir a sua vizinhança em apenas sete anos. As partículas que se deslocam a mais de 1,5 km/s podem chegar ao sistema Terra-Lua numa escala de tempo semelhante.

O fato de os meteoroides se dirigirem para a Terra ou para Marte depende da sua posição na pluma de impacto em forma de cone da DART; o material do lado norte tem mais probabilidades de se dirigir para Marte, enquanto o material do sudoeste tem mais probabilidades de chegar à Terra. O maior destes meteoroides teria apenas o tamanho de uma bola de tênis. É certo que se queimariam na atmosfera da Terra, embora possam conseguir atravessar a mais fina atmosfera marciana. Em todo o caso, parece que apenas as partículas menores poderão chegar à Terra, pois são as que foram lançadas a maior velocidade.

Não podemos ainda determinar se estas partículas serão suficientemente grandes para produzir meteoros observáveis, pelo que será essencial um monitoramento contínuo do céu noturno. Há mais de 1.000 fluxos de meteoroides conhecidos atravessando a órbita da Terra, ligados a famosas chuvas de meteoros anuais, como as recentes Perseidas e as Táuridas.

Os astrônomos tornaram-se hábeis em rastrear a origem dos meteoros até determinados fluxos de meteoroides ou corpos de cometas ou asteroides. Este estudo envolve o mesmo tipo de cálculo, mas em sentido inverso, para prever as características e os tempos prováveis dos meteoros ligados ao impacto da DART. 

A Hera foi recentemente transportada da Europa para Cabo Canaveral, nos EUA, para ser lançada a bordo de um Falcon 9 da SpaceX em outubro. Deverá chegar ao asteroide Dimorphos e iniciar a sua exploração no final de 2026.

Um artigo foi aceito para publicação no periódico The Planetary Science Journal.

Fonte: ESA

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Gaia detecta possíveis luas ao redor de centenas de asteroides

O observatório estelar Gaia, da ESA, provou mais uma vez também ser um formidável explorador de asteroides, detectando potenciais luas em torno de mais de 350 asteroides que não se sabe terem uma companheira.

© ESA (órbitas de milhares de asteroides)

Esta imagem mostra as órbitas dos mais de 150.000 asteroides da terceira versão de dados do Gaia, desde as partes interiores do Sistema Solar até aos asteroides troianos à distância de Júpiter, com diferentes cores. A bola amarela no centro representa o Sol. O azul representa a parte interior do Sistema Solar, onde se encontram os asteroides próximos da Terra, os que cruzam Marte e os planetas terrestres. O cinturão principal, entre Marte e Júpiter, está em verde. Os troianos de Júpiter estão em vermelho.

Anteriormente, o Gaia tinha explorado asteroides que se sabia terem luas, os chamados "asteroides binários", e confirmado que os sinais reveladores destas pequenas luas aparecem nos dados astrométricos ultraprecisos do telescópio. Mas esta nova descoberta prova que o Gaia também pode efetuar pesquisas "cegas" para descobrir candidatas completamente novas. Se confirmada, esta nova descoberta acrescenta mais 352 candidatos binários ao registro, quase duplicando o número conhecido de asteroides com luas. 

Os asteroides são objetos fascinantes e detêm uma visão única sobre a formação e evolução do Sistema Solar. Os binários são ainda mais excitantes, pois permitem-nos estudar a forma como diferentes corpos se formam, colidem e interagem no espaço. Graças às suas capacidades únicas de estudar todo o céu, o Gaia já fez, desde o seu lançamento em 2013, uma série de importantes descobertas acerca de asteroides. Na sua terceira divulgação de dados, o Gaia identificou com precisão as posições e os movimentos de mais de 150.000 asteroides. O Gaia também recolheu dados sobre a química dos asteroides, compilando a maior coleção de "espectros de refletância" de asteroides (curvas de luz que revelam a cor e a composição de um objeto). 

As mais de 150.000 órbitas determinadas na terceira divulgação dos dados do Gaia foram refinadas e tornadas 20 vezes mais precisas no âmbito da versão FPR ("focused product release") no ano passado. Preveem-se ainda mais órbitas de asteroides no quarto lançamento de dados do Gaia, previsto para meados de 2026.

A ESA vai continuar explorando asteroides binários através da futura missão Hera, cujo lançamento está previsto para o final deste ano. A Hera dará seguimento à missão DART da NASA, que colidiu com Dimorphos, uma lua que orbita o asteroide Didymos, em 2022, como teste de deflexão de asteroides, produzindo um estudo pós-impacto de Dimorphos. Será a primeira sonda a encontrar-se com um sistema binário de asteroides. O Gaia ajudou os astrônomos a ver a sombra lançada por Didymos quando este passou em frente de estrelas mais distantes em 2022, uma técnica de observação conhecida como ocultação estelar. A viabilidade desta técnica foi drasticamente melhorada pelas órbitas de asteroides do Gaia e pelos mapas estelares dos últimos anos, provando o imenso valor da missão para a exploração do Sistema Solar.

Um artigo foi publicado no periódico Astronomy & Astrophysics.

Fonte: ESA