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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Grandes estrelas deixam sua marca

Esta galáxia azul brilhante é uma imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble, é uma galáxia anã compacta azul chamada Markarian 178 (Mrk 178).

© Hubble (Markarian 178)

Esta galáxia, substancialmente menor que a nossa Via Láctea, está localizada a 13 milhões de anos-luz de distância, na constelação da Ursa Maior.

A Mrk 178 é uma das mais de 1.500 galáxias Markarian. Essas galáxias receberam esse nome em homenagem ao astrofísico armênio Benjamin Markarian, que compilou uma lista de galáxias surpreendentemente brilhantes na luz ultravioleta.

Embora a maior parte da galáxia seja azul devido à abundância de estrelas jovens e quentes com pouca poeira ao seu redor, Mrk 178 adquire uma tonalidade vermelha devido a uma concentração de estrelas massivas, especialmente na região avermelhada mais brilhante, próxima à borda da galáxia. Essa nuvem azul abriga um grande número de objetos raros chamados estrelas Wolf-Rayet. Estrelas Wolf-Rayet são estrelas massivas que estão expelindo suas atmosferas por meio de ventos estelares poderosos.

Como Mrk 178 contém muitas estrelas Wolf-Rayet, as linhas de emissão brilhantes dos ventos estelares quentes dessas estrelas estão gravadas no espectro da galáxia. Os elementos hidrogênio e oxigênio particularmente ionizados aparecem com uma cor vermelha em Mrk 178 nesta foto, observada usando alguns dos filtros de luz especializados do Hubble.

Estrelas massivas entram na fase Wolf-Rayet pouco antes de colapsarem em buracos negros ou estrelas de nêutrons. Como as estrelas Wolf-Rayet duram apenas alguns milhões de anos, os pesquisadores sabem que algo deve ter desencadeado uma recente explosão de formação estelar em Mrk 178.

À primeira vista, não está claro qual poderia ser a causa, a galáxia Mrk 178 não parece ter vizinhos galácticos próximos que pudessem ter agitado seu gás para formar novas estrelas. Os astrônomos acreditam que o fenômeno foi desencadeado pela interação com um satélite menor, conforme revelado pela presença de estruturas de maré de baixo brilho superficial detectadas ao redor de Mrk 178 em imagens profundas adquiridas com o Telescópio Binocular Grande (LBT). Dados futuros de alta resolução do Hubble serão cruciais para o estudo detalhado da história da formação estelar de Mrk 178.

Fonte: ESA

sábado, 6 de dezembro de 2025

Os jatos bipolares de KX Andromedae

Expelindo da estrela variável KX Andromedae, localizada na galáxia de Andrômeda, esses exuberantes jatos bipolares.

© Deep Sky Collective (jatos bipolares em KX Andromedae)

Descobertos recentemente, eles são revelados com detalhes sem precedentes nesta imagem telescópica profunda centrada em KX Andromedae e composta por mais de 692 horas de dados de imagem combinados.

Foi descoberto espectroscopicamente que KX Andromedae ​​é um sistema estelar binário interagindo, composto por uma estrela brilhante e quente do tipo B com uma estrela gigante fria e inchada como sua companheira próxima compartilhando a mesma órbita.

O sistema tem apenas cerca de 25 milhões de anos. O par completa uma órbita circular a cada 38,92 dias com uma inclinação de 50°.

O material estelar da estrela gigante fria provavelmente está sendo transferido para a estrela quente do tipo B através de um disco de acreção, com jatos simétricos espetaculares sendo expelidos perpendicularmente ao próprio disco.

A distância conhecida de KX Andromedae, de 2.500 anos-luz, o tamanho angular dos jatos e a inclinação estimada do disco de acreção levam à estimativa do tamanho de cada jato em impressionantes 19 anos-luz.

Fonte: NASA

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Observando a região mais interior de um "polar intermediário"

A cerca de 200 anos-luz da Terra, o núcleo de uma estrela morta está, como que numa dança cósmica macabra, girando ao redor de uma estrela maior.

© MIT (anã branca puxando material de uma estrela maior)

A ilustração mostra uma estrela anã branca menor (à esquerda) puxando material de uma estrela maior para um rodopiante disco de acreção.

A estrela morta é um tipo de anã branca que exerce um poderoso campo magnético à medida que puxa o material da estrela maior para um rodopiante disco de acreção. O par em espiral é o que se chama um "polar intermediário", um tipo de sistema estelar que emite um padrão complexo de radiação intensa, incluindo raios X, à medida que o gás da estrela maior cai sobre a outra. 

Agora, astrônomos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) utilizaram um telescópio de raios X no espaço para identificar as principais características da região mais interior do sistema, um ambiente extremamente energético que tem, até agora, permanecido inacessível à maioria dos telescópios.

Foi utilizado o IXPE (Imaging X-ray Polarimetry Explorer) da NASA para observar o sistema polar intermediário conhecido como EX Hydrae. A equipe encontrou um grau surpreendentemente elevado de polarização de raios X, que descreve a direção do campo elétrico de uma onda de raios X, bem como uma inesperada direção de polarização nos raios X provenientes de EX Hydrae.

A partir destas medições, os pesquisadores seguiram os raios X até à sua fonte na região mais interior do sistema, perto da superfície da anã branca. Além disso, determinaram que os raios X do sistema eram emitidos por uma coluna de material branco e quente que a anã branca estava atraindo da sua estrela companheira. Estimam que esta coluna tem mais de 3.200 quilômetros de altura, cerca de metade do raio da própria anã branca e muito mais alta do que os físicos tinham previsto para um sistema deste gênero. Determinaram também que os raios X são refletidos da superfície da anã branca antes de se dispersarem no espaço, um efeito que os físicos suspeitavam, mas que não tinham confirmado até agora.

Os resultados demonstram que a polarimetria de raios X pode ser uma forma eficaz de estudar ambientes estelares extremos, como as regiões mais energéticas de uma anã branca em acreção. Todas as formas de luz, incluindo os raios X, são influenciadas por campos elétricos e magnéticos. A luz viaja em ondas que oscilam, em ângulos retos em relação à direção em que a luz viaja. Os campos elétricos e magnéticos externos podem puxar estas oscilações em direções aleatórias. Mas quando a luz interage e faz ricochete numa superfície, pode tornar-se polarizada, o que significa que as suas vibrações se concentram numa direção. A luz polarizada pode, portanto, ser uma forma de localizar a fonte da luz e discernir alguns pormenores sobre a geometria da fonte.

O observatório espacial IXPE é a primeira missão da NASA concebida para estudar os raios X polarizados que são emitidos por objetos astrofísicos extremos. A nave espacial, que foi lançada em 2021, orbita a Terra e regista estes raios X polarizados. Desde o lançamento, tem-se concentrado principalmente em supernovas, buracos negros e estrelas de nêutrons. O novo estudo do MIT é o primeiro a utilizar o IXPE para medir os raios X polarizados de um polar intermediário, um sistema menor em comparação com os buracos negros e as supernovas, que, no entanto, é conhecido por ser um forte emissor de raios X.

Um sistema polar intermediário recebe o seu nome da força do campo magnético da anã branca central. Quando este campo é forte, o material da estrela companheira é diretamente puxado para os polos magnéticos da anã branca. Quando o campo é muito fraco, o material estelar gira em torno da anã num disco de acreção que eventualmente deposita matéria diretamente na superfície da anã.

No caso de um polar intermediário, os físicos preveem que o material caia numa espécie de complexo padrão intermediário, formando um disco de acreção que também é puxado para os polos da anã branca. O campo magnético deve levantar o disco de material vindouro para cima, como uma fonte altamente energética, antes de os detritos estelares caírem em direção aos polos magnéticos da anã branca a velocidades de milhões de quilômetros por hora.

Suspeita-se que este material em queda deve chocar com material previamente levantado que ainda está caindo em direção aos polos, criando uma espécie de engarrafamento de gás. Este amontoado de matéria forma uma coluna de gás em colisão com uma temperatura de milhões de graus Celsius e deverá emitir raios X altamente energéticos. Ao medir os raios X polarizados emitidos por EX Hydrae, a equipe pretendia testar a imagem dos polares intermediários. 

Em janeiro de 2025, o IXPE obteve um total de cerca de 600.000 segundos, ou cerca de sete dias, de medições de raios X do sistema. As medições revelaram um grau de polarização de 8%, muito superior ao que os cientistas tinham previsto de acordo com alguns modelos teóricos. A partir daí, os pesquisadores puderam confirmar que os raios X estavam de fato vindo da coluna do sistema, e que esta coluna tem cerca de 3.200 quilômetros de altura. 

A equipe também mediu a direção da polarização dos raios X de EX Hydrae, que determinaram ser perpendicular à coluna de gás oriundo da anã branca. Isto foi um sinal de que os raios X emitidos pela coluna estavam fazendo ricochete na superfície da anã branca antes de viajarem para o espaço e, eventualmente, para os telescópios do IXPE.

A equipe planeja aplicar a polarização de raios X no estudo de outros sistemas de anãs brancas em acreção, o que poderá ajudar os cientistas a compreender fenômenos cósmicos muito mais vastos.

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

sábado, 29 de novembro de 2025

Descodificando o passado secreto de uma estrela

Astrônomos do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí desvendaram o passado turbulento de uma gigante vermelha distante, escutando a sua "canção" celeste.

© Google Gemini (estrela gigante vermelha orbitando um buraco negro)

Variações sutis no brilho da estrela sugerem que, potencialmente e em tempos, colidiu e fundiu-se com outra estrela, um evento explosivo que a deixou girando rapidamente. Atualmente, orbita um buraco negro silencioso no sistema Gaia BH2.

Utilizando dados do satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA, os astrônomos detectaram tênues "sismos estelares" que ondulam na estrela companheira de Gaia BH2, um sistema que abriga um buraco negro identificado pela primeira vez pela missão Gaia da ESA em 2023. 

Tal como as ondas sísmicas revelam as camadas interiores da Terra, estas vibrações estelares deram aos cientistas um raro vislumbre sob a superfície da estrela, permitindo-lhes medir as propriedades do seu núcleo com uma precisão notável. 

Tal como os sismólogos usam os terremotos para estudar o interior da Terra, é possível usar as oscilações estelares para compreender o que se passa no interior de estrelas distantes. Estas vibrações disseram-nos algo inesperado sobre a história desta estrela. A maior surpresa veio da composição da estrela. É considerada "rica em elementos alfa", o que significa que está repleta de elementos mais pesados, normalmente encontrados em estrelas muito mais antigas, o que sugere que deve ser antiga.

No entanto, quando os cientistas estudaram as suas vibrações, descobriram que, na realidade, tem apenas cerca de 5 bilhões de anos, demasiado jovem para se ter formado com essas características químicas. As estrelas jovens e ricas em elementos alfa são muito raras e intrigantes. 

A combinação de juventude e química antiga sugere que esta estrela não evoluiu isoladamente. Provavelmente adquiriu massa extra de uma companheira, quer através de uma fusão, quer absorvendo material quando o buraco negro se formou. O mistério aprofunda-se com observações a longo prazo de telescópios terrestres que mostram que a estrela gira uma vez a cada 398 dias, muito mais depressa do que o esperado para uma gigante vermelha isolada da sua idade. 

A estrela deve ter sido acelerada através de interações de maré com a sua companheira, o que apoia ainda mais a ideia de que este sistema tem uma história complexa. A equipe também examinou Gaia BH3, outro sistema que contém um buraco negro e uma estrela companheira ainda mais incomum. Embora os modelos previssem que esta estrela deveria mostrar oscilações claras, nenhuma foi detectada, o que sugere que as teorias atuais sobre estrelas extremamente pobres em metais podem precisar de ser atualizadas.

Tanto Gaia BH2 como BH3 são sistemas com buracos negros dormentes, o que significa que não estão se alimentando das suas estrelas companheiras e, por isso, não emitem raios X. A sua descoberta, através de medições precisas do movimento estelar, está alterando a forma como os astrônomos compreendem os buracos negros na nossa Galáxia.

As futuras observações do TESS e de Gaia BH2 darão aos cientistas um olhar mais pormenorizado das suas vibrações estelares e poderão confirmar se se formou através de uma fusão passada, ajudando a desvendar como surgiram estes pares silenciosos de buracos negros.

Um artigo foi publicado no periódico The Astronomical Journal.

Fonte: Universidade do Havaí

O fascínio do obscuro

Os observadores não resistem ao desafio de procurar objetos tênues com nomes curiosos. Mergulhando fundo e visitando dois deles: o Paraquedas de Andrômeda e o Chivito de Drácula.

© Hubble (Chivito de Drácula)

A imagem acima mostra o Chivito de Drácula, que é um grande disco protoplanetário visto de perfil, que circunda uma estrela recém-formada na constelação de Cefeu. Uma espessa faixa de poeira divide a nebulosa de reflexão brilhante, com formato semelhante a um pão, e esconde a estrela recém-nascida, que se encontra a aproximadamente 980 anos-luz de distância.

O Chivito de Drácula é oficialmente designado IRAS 23077+6707. A primeira parte do nome faz referência ao personagem fictício Conde Drácula, assim chamado porque o primeiro autor, Ciprian Berghea, cresceu na Transilvânia, Romênia, e porque as protuberâncias muito tênues que se estendem para o norte a partir dos dois lóbulos do disco lembram 'presas'. A segunda parte faz referência a um chivito, sugerido por Ana Mosquera, que é do Uruguai. Chivito é uma combinação de carne grelhada, mussarela, presunto, tomates, azeitonas e maionese servida em um pão, lanche tardicional no Uruguai.

A seguir, a imagem mostra o Paraquedas de Andrômeda, que é um quasar com lente gravitacional quádrupla, descoberto em 2017 e localizado a 10,9 bilhões de anos-luz da Terra, na constelação de Andrômeda.

© Gary Imm (Paraquedas de Andrômeda)

Esta imagem, obtida pelo telescópio de levantamento Pan-STARRS-1 de 1,8 metros em Haleakalā, no Havaí, mostra os quatro quasares de Andrômeda obtidos através de lente gravitacional, rotulados de A a D em ordem decrescente de brilho. O paraquedas tem cerca de 3,8″ de diâmetro, e os três componentes mais brilhantes têm magnitude aproximada de 15. O quasar D está mais próximo da magnitude 18. À direita: Uma visão mais ampla mostra a região de 2′ ao redor do objeto, incluindo uma estrela de magnitude 11 imediatamente a sudeste.

O objeto é formalmente conhecido pelo nome mais sóbrio de J014710+463040. O X marca a localização da galáxia massiva interposta, muito tênue para aparecer na imagem acima, age como uma lente que distorce o tecido do espaço-tempo, criando quatro imagens de um quasar remoto a cerca de 11 bilhões de anos-luz de distância. Considerando a expansão do Universo desde que a luz deixou o quasar, o objeto está a cerca de 18,9 bilhões de anos-luz de distância!

Raramente os observadores têm o privilégio de ver algo através de um abismo espacial tão vasto, um testemunho do aumento de brilho proporcionado pelo processo de lente gravitacional.

Fonte: Sky & Telescope