Astrônomos usando o telescópio espacial Hubble da NASA/ESA descobriram uma imensa nuvem de hidrogênio dispersada por um planeta quente do tamanho de Netuno em órbita de uma estrela próxima. A enorme cauda gasosa do planeta tem cerca de 50 vezes o tamanho da estrela progenitora.
© NASA/ESA/STScI/G. Bacon (ilustração de enorme nuvem em forma de cometa)
Um fenômeno assim tão grande nunca tinha sido observado antes ao redor de um exoplaneta deste tamanho; já foram observados fenômenos parecidos mas em exoplanetas mais massivos. Pode proporcionar pistas de como as super-Terras, versões quentes e gigantes da Terra, nascem em torno de outras estrelas.
"Esta nuvem de hidrogênio é espetacular!" afirma David Ehrenreich do Observatório da Universidade de Genebra, na Suíça, autor principal do estudo. "Embora a taxa de evaporação não ameace, por agora, o planeta, nós sabemos que a estrela, uma tênue anã vermelha, já foi mais ativa no passado. Isto significa que a atmosfera do planeta evaporou-se mais depressa durante o primeiro bilhão de anos da sua existência. No geral, estima-se que pode ter perdido até 10% da sua atmosfera."
O planeta, chamado Gliese 436b, é considerado um "Netuno quente" porque é parecido em tamanho com Netuno, mas está muito mais perto da sua estrela Gliese 436 do que Netuno está do Sol. Embora, neste caso, o planeta não esteja em perigo de perder completamente a sua atmosfera, deixando apenas um núcleo sólido e rochoso, este comportamento pode explicar a existência das super-Terras quentes, que orbitam muito perto das suas estrelas e são normalmente mais massivas que a Terra, embora mais pequenas que as dezassete massas terrestres de Netuno.
As super-Terras quentes podem ser os núcleos remanescentes de planetas mais massivos que perderam completamente as suas atmosferas espessas, devido ao mesmo gênero de evaporação que o Hubble observou ao redor de Gliese 436b.
Considerando que a atmosfera da Terra bloqueia a maior parte da luz ultravioleta, os astrônomos precisaram de um telescópio espacial com a capacidade ultravioleta e precisão requintada do Hubble a fim de observar a nuvem. "Não teríamos sido capazes de a observar em comprimentos de onda visíveis," explica Ehrenreich. "Mas quando apontamos o olho ultravioleta do Hubble para este sistema, dá-se uma verdadeira transformação, o planeta altera-se para uma coisa monstruosa."
Ehrenreich e a sua equipe sugerem que a enorme nuvem de gás pode existir em torno deste planeta porque a nuvem não é rapidamente aquecida e varrida pela radiação da estrela anã vermelha, que é relativamente fria. Isto permite com que a nuvem fique por mais tempo.
Este gênero de evaporação pode também ter acontecido no passado do nosso Sistema Solar, quando a Terra tinha uma atmosfera rica em hidrogênio que se dissipou. Também é possível que aconteça novamente no final da vida do nosso planeta, quando o Sol inchar para se tornar numa gigante vermelha e ferver a nossa atmosfera restante, antes de engolir completamente o nosso planeta.
Gliese 436b reside muito próximo de Gliese 436, apenas a cerca de 4 milhões de quilômetros de distância, e completa uma órbita em mais ou menos 2,6 dias terrestres. Este planeta tem, pelo menos, 6 bilhões de anos, mas suspeita-se que possa ser mais velho. Com aproximadamente o tamanho de Netuno, tem uma massa que corresponde a mais ou menos 23 Terras. E a apenas 30 anos-luz da Terra, é um dos exoplanetas mais próximos que se conhecem.
"A descoberta da nuvem ao redor de Gliese 436b pode mudar completamente o jogo da caracterização das atmosferas de toda a população de Netunos e super-Terras em observações ultravioletas," comenta Vincent Bourrier, também do Observatório de Genebra na Suíça. Nos próximos anos, Bourrier espera que os astrônomos encontrem milhares de planetas deste gênero.
Os resultados foram publicados na edição desta semana da revista Nature.
Fonte: Observatoire Astronomique de l'Université de Genève
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