Um estudo detalhado de jovens estrelas e do ambiente ao redor delas tem produzido uma nova evidência dramática sobre como sistemas de múltiplas estrelas se formam e como os discos de poeira que são o material bruto para a formação de planetas crescem ao redor de jovens estrelas.
© NRAO/Bill Saxton (ilustração da formação de planetas e de sistemas estelares múltiplos)
Equipes de cientistas, usaram o radiotelescópio Karl G. Jansky Very Large Array (VLA) da National Science Foundation para estudar aproximadamente 100 estrelas recém-nascidas numa nuvem de gás e poeira a cerca de 750 anos-luz de distância da Terra, onde novas estrelas estão se formando.
Imagens efetuadas deste estudo mostraram detalhes sem precedentes de um grande número de estrelas jovens, e estão auxiliando os astrônomos a resolverem questões importantes sobre como as estrelas, as estrelas binárias, e os planetas nascem.
Observando os sistemas de múltiplas estrelas jovens, uma equipe concluiu que dois diferentes mecanismos de formação podem estar trabalhando para produzir esses sistemas. Foi notado que os sistemas caiam em dois distintos tipos, com base na distância entre as estrelas no sistema. Os sistemas mais próximos tinham estrelas separadas por cerca de 75 vezes a distância da Terra ao Sol, e outro grupo tinha estrelas separadas por cerca de 3.000 vezes a distância entre a Terra e o Sol. Eles também descobriram que mais da metade das estrelas mais jovens que eles estudaram estavam em sistemas múltiplos, sugerindo que a formação de estrelas tende a produzir múltiplos sistemas ao invés de estrelas simples.
© NRAO/J. Tobin (sistema estelar triplo na Nuvem Molecular de Perseus)
“Alguns processos diferentes têm sugerido como sistemas estelares múltiplos se formam, e os nossos resultados indicam que a separação entre as estrelas pode nos dizer quais desses processos são responsáveis por um sistema particular,” disse John Tobin, do Observatório de Leiden na Holanda.
As estrelas se formam em gigantescas nuvens de gás e poeira, quando o material tênue nestas nuvens se colapsa gravitacionalmente em núcleos que então começam a adicionar mais material. O material forma um disco em rotação ao redor da estrela jovem. Eventualmente, a estrela jovem aglutina massa suficiente para criar condições de temperatura e pressão em seus centros que irão disparar as reações termonucleares. O disco em rotação ao redor da estrela fornece o material dos quais os planetas podem se formar.
Os pesquisadores concluíram que mais sistemas múltiplos vastamente separados se formam através da fragmentação turbulenta da nuvem maior, enquanto que os sistemas mais próximos são o resultado da fragmentação que acontece dentro do disco de material orbitando a protoestrela original. Eles também descobriram que sistemas mais velhos tinham menos companheiras vastamente separadas do que o grupo mais jovem de protoestrelas. Sugerindo que talvez algumas estrelas jovens que formam sistemas vastamente separados não são gravitacionalmente presas e simplesmente se movimentam para longe uma da outra com o passar do tempo.
Outra equipe, liderada por Dominique Segura-Cox, da Universidade de Illinois, descobriu que os discos empoeirados em torno de algumas das protoestrelas são maiores do que os modelos teóricos previam. Estes discos são essenciais na formação de planetas e de algumas companheiras binárias, e na habilidade das jovens estrelas de agregarem material adicional.
À medida que o material cai em direção à estrela jovem, ele conduz os campos magnéticos junto. Os teóricos sugerem que estes campos, que tornam-se mais fortes à medida que eles são concentrados mais perto da estrela, poderiam ser alinhados de modo que eles reduziriam de forma dramática a rotação do disco, limitando o seu tamanho. Modelos teóricos previram este efeito, chamado de freio magnético, que limitaria os discos a um raio de cerca de 10 vezes a distância entre a Terra e o Sol, ou seja, um pouco mais da distância entre a Terra e Saturno.
“Nós descobrimos discos com raios que eram no mínimo entre 15 e 30 vezes a distância da Terra ao Sol, algo muito maior do que o modelo do freio magnético permitiria,” disse Segura-Cox. “Esse é o limite inferior, e os discos podem na verdade ser muito maiores. Estudos de outros sistemas têm indicado que os discos são maiores quando são observados nas frequências de rádio, diferentes daquelas usadas nesse projeto,” adicionou ela.
Uma explicação para discos de tamanhos maiores pode ser que em alguns sistemas, o campo magnético e o eixo de rotação da estrela estão desalinhados, uma configuração que reduz o efeito de freio magnético. Evidências para isto tem sido observada em alguns objetos.
Em outro estudo publicado em Dezembro de 2015, uma equipe usou dados do mesmo projeto para encontrar que o material caindo na direção de uma protoestrela está contorcendo as linhas de campo magnético e mudando sua configuração. Este estudo, que mediu o alinhamento do campo magnético perto da estrela, indica um mecanismo para minimizar o efeito de freio magnético.
Estas observações de discos ao redor de estrelas jovens sugerem que todos os elementos necessários para a formação de planetas estão presentes bem no início da vida de uma estrela. Além disso, é provável que já existam partículas com centímetros de tamanho nestes jovens discos, significando que o crescimento de sólidos progride rapidamente,” disse Tobin.
As imagens para esse trabalho vieram de um projeto chamado VLA NAscent Diosk and Multiplicity Survey (VANDAM). Essa pesquisa usou 264 horas de observação do VLA, entre 2013 e 2015 para estudar protoestrelas na Nuvem Molecular de Perseus, a cerca de 750 anos-luz de distância da Terra. A Nuvem Molecular de Perseus, contém material de aproximadamente 10.000 sóis, e é uma das regiões mais próximas onde as estrelas de pouca massa e de massa intermediária estão se formando de forma ativa, e isso serve como um valioso laboratório para a compreensão do processo de formação de estrelas.
“Esta pesquisa amostrou o maior número de estrelas jovens, e revelou objetos mais apagados do que estudos anteriores. A informação que essa pesquisa forneceu melhorou e muito o nosso conhecimento,” disse Tobin.
“Os discos que nós estudamos são difíceis de serem observados já que eles são obscurecidos pela nuvem onde eles estão se formando, mas essas novas observações feitas com o VLA revelam os discos e fornecem dados críticos sobre o mecanismo de formação,” disse Segura-Cox.
Os pesquisadores apresentaram seus resultados na 227ª reunião da American Astronomical Society, em Kissimmee, na Flórida (EUA).
Fonte: National Radio Astronomy Observatory
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