Os astrônomos que utilizam o Observatório Gemini, operado pelo NOIRLab (National Optical-Infrared Astronomy Research Laboratory), descobriram o buraco negro mais próximo da Terra.
© NOIRLab (buraco negro e sua estrela companheira)
Esta é a primeira detecção inequívoca de um buraco negro de massa estelar dormente na Via Láctea. A sua proximidade da Terra fornece um intrigante alvo de estudo para o avanço da nossa compreensão da evolução dos sistemas binários.
Os buracos negros são os objetos mais extremos do Universo. As versões supermassivas destes objetos inimaginavelmente densos residem provavelmente nos centros de todas as grandes galáxias. Os buracos negros de massa estelar, que têm aproximadamente entre cinco a 100 vezes a massa do Sol, são muito mais comuns, com uma estimativa de 100 milhões só na Via Láctea. No entanto, apenas um punhado foi confirmado até à data e quase todos eles são "ativos", o que significa que brilham em raios X à medida que consomem material de uma companheira estelar próxima, ao contrário dos buracos negros adormecidos que não o fazem.
O buraco negro mais próximo da Terra, é denominado Gaia BH1. Este buraco negro inativo é cerca de 10 vezes mais massivo do que o Sol e está localizado a cerca de 1.600 anos-luz de distância na direção da constelação de Ofiúco, tornando-o três vezes mais próximo da Terra do que o anterior detentor do recorde, um binário de raios X na direção da constelação de Unicórnio.
A nova descoberta foi possível através de observações requintadas do movimento da companheira do buraco negro, uma estrela parecida com o Sol que orbita o buraco negro aproximadamente à mesma distância que a Terra orbita o Sol.
Embora existam provavelmente milhões de buracos negros de massa estelar vagando pela Via Láctea, os poucos que foram detectados foram descobertos devido às suas interações energéticas com uma estrela companheira. À medida que o material de uma estrela próxima espirala em direção ao buraco negro, torna-se sobreaquecido e gera poderosos raios X e jatos de material.
A equipe identificou originalmente o sistema como potencialmente anfitrião de um buraco negro através da análise de dados da nave espacial Gaia da ESA. O observatório Gaia captou as minúsculas irregularidades no movimento da estrela provocadas pela gravidade de um objeto massivo e invisível.
Para explorar o sistema com mais detalhe, os astrônomos utilizaram o instrumento GMOS (Gemini Multi-Object Spectrograph) no Gemini North, que mediu a velocidade da estrela companheira em órbita do buraco negro e forneceu uma medição precisa do seu período orbital. As observações de acompanhamento do Gemini foram cruciais para restringir o movimento orbital e, consequentemente, as massas dos dois componentes do sistema binário, permitindo a identificação do corpo central como um buraco negro cerca de 10 vezes mais massivo do que o nosso Sol.
Os modelos atuais dos astrônomos sobre a evolução dos sistemas binários têm dificuldade em explicar como a peculiar configuração do sistema Gaia BH1 pode ter surgido. Especificamente, a estrela progenitora que mais tarde se transformou no buraco negro recentemente detectado teria sido pelo menos 20 vezes mais massiva do que o nosso Sol. Isto significa que teria vivido apenas alguns milhões de anos. Se ambas as estrelas se formaram ao mesmo tempo, esta estrela massiva teria se transformado rapidamente numa supergigante, inchando e engolindo a outra estrela antes de esta ter tido tempo de se tornar uma estrela normal de sequência principal, que queima hidrogênio, como o nosso Sol.
Não é de todo claro como a estrela de massa solar pode ter sobrevivido a este episódio, acabando como uma estrela aparentemente normal, como indicam as observações do binário que abriga o buraco negro.
Dos modelos teóricos que permitem a sobrevivência, todos preveem que a estrela de massa solar deveria ter acabado numa órbita muito mais íntima do que a atualmente observada. Isto pode indicar que existem importantes lacunas na nossa compreensão de como os buracos negros se formam e evoluem nos sistemas binários e também sugere a existência de uma população ainda não explorada de buracos negros dormentes em binários.
Um artigo foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: Gemini Observatory
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