Alguns exoplanetas parecem estar perdendo as suas atmosferas e encolhendo.
© STScI (ilustração do exoplaneta TOI-421 b)
Num novo estudo realizado com dados do aposentado telescópio espacial Kepler da NASA, os astrônomos encontraram evidências de uma possível causa: os núcleos destes planetas estão empurrando as suas atmosferas de dentro para fora.
Os exoplanetas existem numa variedade de tamanhos, desde pequenos planetas rochosos a colossais gigantes gasosos. No meio estão as super-Terras rochosas e os maiores sub-Netunos com atmosferas inchadas. Mas há uma ausência conspícua, uma "lacuna de tamanho", de planetas que se situam entre 1,5 e 2 vezes o tamanho da Terra (ou entre super-Terras e sub-Netunos).
Os cientistas já confirmaram a detecção de mais de 5.000 exoplanetas, mas há menos planetas do que se esperava com um diâmetro entre 1,5 e 2 vezes o da Terra.
Os pesquisadores pensam que esta lacuna pode ser explicada pelo fato de certos sub-Netunos perderem a sua atmosfera ao longo do tempo. Esta perda aconteceria se o planeta não tivesse massa suficiente e, portanto, força gravitacional, para manter a sua atmosfera. Assim, os sub-Netunos que não são suficientemente massivos encolheriam até ao tamanho das super-Terras, deixando a lacuna entre os dois tamanhos de planetas.
Mas a forma exata como estes planetas estão perdendo a sua atmosfera tem permanecido um mistério. Os cientistas chegaram a um consenso sobre dois mecanismos prováveis: um deles é chamado de perda de massa alimentada pelo núcleo; e o outro, fotoevaporação.
O estudo descobriu novas evidências que apoiam o primeiro. A perda de massa impulsionada pelo núcleo ocorre quando a radiação emitida pelo núcleo quente de um planeta empurra a atmosfera para longe do planeta ao longo do tempo. A outra explicação principal para a lacuna planetária, a fotoevaporação, ocorre quando a atmosfera de um planeta é essencialmente soprada pela radiação quente da sua estrela hospedeira. Neste cenário, a radiação altamente energética da estrela atua como um secador de cabelo num cubo de gelo.
Embora se pense que a fotoevaporação ocorre durante os primeiros 100 milhões de anos de um planeta, a perda de massa alimentada pelo núcleo ocorre muito mais tarde, perto um bilhão de anos de vida de um planeta.
Neste estudoforam utilizados dados do K2 da NASA, uma missão alargada do telescópio espacial Kepler, para observar os aglomerados estelares do Presépio e das Híades, que têm entre 600 milhões e 800 milhões de anos.
Como se pensa que os planetas têm geralmente a mesma idade que a sua estrela hospedeira, os sub-Netunos deste sistema estariam para além da idade em que a fotoevaporação poderia ter tido lugar, mas não suficientemente velhos para terem sofrido uma perda de massa impulsionada pelo núcleo. Assim, ao verificar que haviam muitos sub-Netunos nos aglomerados do Presépio e das Híades (em comparação com estrelas mais velhas em outros aglomerados), poderia concluir que a fotoevaporação não tinha ocorrido. Neste caso, a perda de massa alimentada pelo núcleo seria a explicação mais provável para o que acontece aos sub-Netunos menos massivos ao longo do tempo.
Ao observar os aglomerados do Presépio e das Híades, os pesquisadores descobriram que quase 100% das estrelas nestes aglomerados ainda têm um planeta sub-Netuno ou um candidato a planeta na sua órbita.
A julgar pelo tamanho destes planetas, os pesquisadores pensam que eles mantiveram as suas atmosferas. Isto difere das outras estrelas mais antigas observadas pelo K2 (estrelas com mais de 800 milhões de anos), das quais apenas 25% têm sub-Netunos em órbita.
A idade mais avançada destas estrelas está mais próxima do período de tempo em que se pensa que ocorre a perda de massa impulsionada pelo núcleo. A partir destas observações, a concluiu-se que a fotoevaporação não poderia ter ocorrido nos aglomerados do Presépio e das Híades. Se tivesse acontecido, teria ocorrido centenas de milhões de anos antes, e estes planetas teriam pouca ou nenhuma atmosfera. Isto deixa a perda de massa alimentada pelo núcleo como a principal explicação para o que provavelmente acontece com as atmosferas destes planetas.
Mas a pesquisa está longe de estar concluída, e é possível que a compreensão atual da fotoevaporação e/ou da perda de massa alimentada pelo núcleo possa evoluir. As descobertas serão provavelmente postas à prova por estudos futuros antes que alguém possa declarar o mistério desta lacuna planetária resolvido de uma vez por todas.
Um artigo foi publicado no periódico The Astronomical Journal.
Fonte: Jet Propulsion Laboratory
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